D. Rui Valério, Ordinário Castrense, presidiu ontem, 6 de Março, à Missa das Cinzas.

A Cerimónia aconteceu na Igreja da Memória, Sé Catedral da Diocese das Forças Armadas e Forças de Segurança.

Concelebraram o Vigário Geral Castrense, pe. José Ilídio, o Capelão Adjunto para o Exército, pe. Jorge Matos, o Capelão Adjunto para a Força Aérea, pe. Joaquim Martins, o Vigário Judicial, pe. Jorge Almeida, o Capelão da Memória, pe. Borges e o pe. Teixeira, ex-Capelão Chefe do Exército. Estiveram também presentes o Diácono Esteves e o Diácono Baltar.

Na sua homilia, o Bispo Castrense, apontou a luz da Palavra de Deus escutada e a simbologia do rito das Cinzas como os dois focos a iluminar o caminho da Quaresma até à Páscoa, celebração do mistério central da fé – a morte e ressurreição de Jesus:

A Palavra escutada remete-nos para a interioridade. Isso está bem patente na insistência de Jesus em “não praticar as boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles” e no Seu elogio ao lugar recatado como espaço indicado para a realização das grandes ações, em detrimento da vaidosa exposição pública. Convida-nos, pois, a mover o centro da nossa atenção do exterior para o interior. Mas não se altera apenas o fulcro incisivo da atenção, também a motivação, a razão de ser daquilo que fazemos. Essa motivação não pode estar fora de nós, nem ser exterior a nós. Por isso, Jesus insiste tanto em não vivermos em função das aparências no espaço social, mas em situar-nos na interioridade, porque está dentro de cada um, a fonte da prática das boas ações.

Para Jesus, o Pai é o Senhor da nossa interioridade. Ele habita-a e domina o espaço da nossa intimidade e, por isso, “vê no segredo”. As obras são realizadas, então, a partir d’Ele e só por Ele são plenamente ajuizadas. A este ponto, torna-se explícito aquilo que a alma radicada em Deus é capaz de realizar, sobretudo no caminho quaresmal.

1. A esmola é praticada não em virtude de um sentimento interior de dádiva, mas a Escritura acentua bem que dar a quem precisa, partilhar com quem não tem é acima de tudo um ato de justiça; ou seja, uma ação reparadora com que se procura restabelecer o equilíbrio e a harmonia do plano de Deus para o mundo. Por isso, a esmola não é só, nem principalmente, a expressão de um qualquer sentimento face à pobreza alheia, mas fundamentalmente realiza o desígnio de Deus de um mundo justo e de um universo equilibrado. Portanto, não são os sentimentos humanos a fonte da esmola, mas a força da justiça de Deus presente em nós.

2. A oração é realizada no silêncio, de modo a promover o encontro com o verdadeiro Deus. Ao ritmo desse silêncio e da intimidade, percorre-se a estrada da conversão que passa pelas etapas da destruição das falsas representações do divino, pela descoberta do Seu autêntico rosto e pela união com Ele. Também agora constatamos que a iniciativa do encontro orante com o Senhor é d’Ele, não nossa.

3. O jejum brota da sede de autenticidade que cada ser humano vive. Tal implica desprendimento de tudo aquilo que atrofia a afirmação da singularidade da pessoa e do seu valor próprio, independentemente daquilo que acumulou ou do que possui ou pode adquirir. Nem tão-pouco esta ação tem a sua força operativa em nós. Só uma alma saciada da presença de Deus é capaz de renunciar a tudo o resto, nomeadamente ao mal e ao pecado.”

Continuava, depois, refletindo sobre a simbologia das Cinzas que “evocam a efemeridade da vida — “és pó e em pó te hás de tornar” — mas também estão associadas à verdadeira identidade do ser humano, enquanto homem, “húmus”. Nesse sentido, torna-se evocação da sua constituição de ser à imagem de Deus, chamado a tornar-se Sua semelhança.

Como a semente lançada à terra germina e dará fruto, também aquilo que hoje os nossos ouvidos escutaram e o que os nossos olhos contemplaram são dons a nós oferecidos em ordem ao amadurecimento espiritual”, concluía.

A Igreja da Memória encheu neste dia que deu início ao Santo Tempo da Quaresma.