A CONSAGRAÇÃO HABILITA-NOS PARA O COMBATE

No dia 25 de março, solenidade da Anunciação do Senhor, todas as dioceses estarão unidas na oração do rosário pelas intenções de todo o mundo e em particular de Portugal, nesta situação dramática que estamos a passar devido à Covid-19.

A oração do rosário terá início às 18.30 horas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário do Santuário de Fátima. Após a oração, far-se-á a renovação da consagração de Portugal ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria.

A renovação desta consagração salienta fortemente que Deus é a única fonte de toda a salvação e só n’Ele a humanidade poderá esperar redenção definitiva para toda a opressão e para todas as formas de que a morte se nos faz presente. Ao mesmo tempo, torna-se imperioso evocar o famoso adágio de Santo Agostinho segundo o qual “sem ti nada faz Aquele que, mesmo sem ti, te criou”, referindo-se à cooperação humana na obra da redenção. Como tal, a entrega ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria no ato da nossa consagração proporciona-nos as principais “armas” com que haveremos de travar esta batalha: a fé, a oração e a solidariedade.

1. A fé dirige o nosso coração para o mistério absoluto da vida. Com Nossa Senhora, unidos ao seu coração Imaculado, a nossa confiança está no Senhor. Hoje queremos depositar n’Ele toda a nossa esperança. Porém, é honesto reconhecermos humildemente que, às vezes, a nossa fé é um tanto débil! É certo que Jesus nos assegurou que a fé movia montanhas, mas quantas vezes, por causa da nossa imperfeição, não move sequer uma simples pedrinha. Ele também nos garantiu que se tivermos fé “como um grão de mostarda”, haveríamos de dizer a um monte: “Muda-te daqui para acolá”, e ele haveria de nos obedecer, porque “nada vos será impossível” (Mt 17, 20). Sucede, porém, que há momentos em que a nossa fé nem como o grão de mostarda chega a ser! A pobre realidade do que somos revela o quão importante seja a nossa consagração ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, para nos abandonarmos e remetermos à Sua divina proteção.

Nesta hora inspira-nos Elias que, na famosa cena do contencioso com os profetas dos falsos deuses, quando chegou a sua vez, apenas desembainhou do alforge da alma a fé no Senhor: “À hora do sacrifício, o profeta Elias aproximou-se, dizendo: «Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, mostra hoje que és Tu o Deus em Israel, que eu sou o teu servo; às tuas ordens é que eu fiz tudo isto. Responde-me, Senhor, responde-me! Que este povo reconheça que Tu, Senhor, é que és Deus, aquele que lhes converte os corações.»

De repente, o fogo do Senhor caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até mesmo a própria água do sulco. Ao ver isto, o povo prostrou-se de rosto por terra, exclamando: «O Senhor é que é Deus! O Senhor é que é Deus!» (1Rs 18,36-39)

A presença de Jesus e de Nossa Senhora inspira-nos a elevar ao Pai a nossa súplica, sob a força do Nome de Jesus e da Fé de Maria.

O próprio Jesus nos assegurou: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará.” (Jo 16, 23). São Paulo assevera-o: “Todo o que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Rm 10, 13) e São Pedro confirma-o, quando diz ao paralítico: «Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!»” (At 3,6).

O evangelho é rico em narrar episódios de graças concedidas não em virtude dos méritos dos que as receberam, mas em virtude de o Senhor atender à fé de quem Lhe apresentava a súplica. O primeiro exemplo é o episódio do servo que é curado em virtude da fé do centurião. Diz Jesus ao soldado romano: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado.” (Mt 8, 3). Também um paralítico foi curado pela fé dos companheiros que o transportavam, “Vendo Jesus a fé deles, disse ao paralítico: «Filho, tem confiança, os teus pecados estão perdoados (…) Levanta-te, toma a tua enxerga e volta para tua casa” (Mt 9, 2.6). Também agora elevamos a nossa súplica de salvação a Deus na força do amor de Jesus e da fé de Nossa Senhora.

A fé indica confiança não só na capacidade da ciência humana, mas também no auxílio do Senhor a todos os profissionais de saúde, às Forças Armadas e às Forças de Segurança. O auxílio divino atua não só na proteção e defesa do ser humano, como também na obtenção da cura.

2. A oração é uma porta aberta no céu para irradiar luz e força sobre a terra. E nesta hora tão sombria, necessitamos ainda mais da luz do Senhor para iluminar a situação presente de modo a vislumbrarmos algum significado em tudo o que está a acontecer, que tão incompreensível tem sido para os padrões das nossas mentes. “Na Tua luz, Senhor, nós veremos a luz” (Sl 35, 10); contudo, se forem outras as luzes que nos iluminam, então não veremos senão o lusco-fusco do nosso desencontro connosco mesmos, com os outros e com Deus.

Através da oração, a força do Alto irrompe no mundo, impregnando-o de uma capacidade muito superior ao poder do ser humano. Necessitamos de saúde, mas também de esperança, de alegria, de paz espiritual, de coragem… E todas estes valores são frutos da oração.

3. A terceira grande arma é a solidariedade, que é o rosto do amor. Partilhar, distribuir, ajudar, trabalhar incansavelmente, por vezes até à exaustão — como está a ser feito pelos profissionais de saúde, pelos militares e Forças de Segurança e tantos outros dedicados trabalhadores e voluntários — são comportamentos que pertencem à linguagem do Coração. E já sabemos quais são as medidas do coração: ser sem medida. No meio da desgraça maldita desta pandemia, também há a desmesura do amor, felizmente vivida por tantas pessoas.

Ontem, tornou-se público o martírio do sacerdote italiano, Pe. Giuseppe Beraldelli, que estava hospitalizado por infeção Covid-19. Este homem bondoso abdicou do ventilador que a sua paróquia tinha generosamente adquirido para o seu tratamento e cedeu-o a um doente mais jovem.

Que no Céu interceda por todos nós!