Um mar de luz encheu o recinto do Santuário de Fátima.

Uma vela, uma chama, uma pessoa.

O vento e o frio cortante não faziam arredar pé. Esperava-se a Senhora de Luz que em 1917 foi vista sobre uma simples azinheira.

E enquanto a chama ardia e a vela se gastava, desfiavam-se as contas do rosário, as contas das rosas da vida, cada uma com os seus espinhos.

A sequência de ave-marias, rezadas em voz mais forte ou em surdina, não impedia a visita de pensamentos, de preces, de anseios, de pessoas, de sonhos, de agradecimentos… e, por vezes, o olhar meditativo que contemplava a luz da vela era invadido pela lágrima que brotava do interior.

E a vela ia-se consumindo enquanto a chama da luz vencia a noite escura.

Num trono rodeado de flores brancas irrompeu a Mãe de Luz branca, por entre o povo.

O foco do olhar deixou de ser a luz da vela de cada um para se tornar o manto de Luz da Senhora. Sem dizer palavra, tornou-se discurso, interpelou, deu razões, ativou emoções, motivou a vida, abriu janelas de esperança, apontou o horizonte infinito.

Foi avançando até ao altar. As melodias harmoniosas elevavam o espírito. A liturgia tornava-se encarnação, alimento que tonifica para os desafios equacionados e, sobretudo, para os que escapam ao planeamento.

O encontro, a harmonia, o convívio, o silêncio… Tantas diferenças, tantas histórias de vida, tantas lágrimas de sabor diferente, tantas feridas, tantas transformações, tantos pedidos, tantos obrigados, tantos indizíveis… Tanto contido no longo olhar para a Mãe de todos, para a Mãe do Altar…

A experiência da Luz pede o regresso à vida, aos gestos de bem, à pesquisa, ao estudo, ao caminho do existir conseguido. E eis que o mar de luz se transforma num mar de lenços brancos, num adeus sentido.

Regressamos ao quotidiano, à labuta de quem quer caminhar, ao esforço de quem quer fazer avançar, à conjugação de quem quer transformar… Uma Mãe de Luz que confia a cada um a possibilidade de se gastar iluminando.

Abs_MAI2018