Foi hoje numa cerimónia de homenagem aos Combatentes Inserida nas comemorações do dia 10 de junho, Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas.

D. Rui Valério presidiu a uma Missa na Igreja de Santa Maria de Belém, Jerónimos, e, logo de seguida, junto do Monumento aos Combatentes do Ultramar, realizou-se uma Homenagem aos Combatentes que deram a sua vida ao serviço da Pátria. 

As palavras do prelado centraram-se nos Combatentes de todos os tempos, que a exemplo do discípulo amado junto à cruz de Jesus, nunca abandonam, nunca deixam para trás, aqueles que são crucificados por diversas circunstâncias. «Este discípulo ainda está vivo e, ao longo dos séculos, tem vivido naqueles Combatentes que, no campo da honra jamais abandonam alguém ou o deixam para trás. O gesto da solidariedade extrema que chega ao limite de arriscar a própria vida, tem continuado, no fluir dos tempos, nos gloriosos atos dos que não hesitam em responder ao chamamento para os combates. Faz parte da sua estatura humana nunca abandonar os que ele sente como estando confiados a si pela força da amizade, da honra e da lealdade. Ser combatente é estar junto à Cruz de todos os cristos que as injustiças do mundo têm produzido; é estar junto à Cruz dos oprimidos, dos que foram e são violentados. Por isso, ele é o arauto da coragem que enfrenta com bravura tudo o que é inimigo da humanidade e da dignidade do ser humano. Mas ele também caminha levando sobre os seus ombros de valentia e intrepidez a Cruz de um camarada, como carrega a cruz do desalento de um povo para que ao mesmo povo seja permitido sonhar com liberdade e justiça.»

D. Rui continuava depois referindo que evocar os gloriosos Combatentes no Dia de Portugal «não é apenas obra da memória, mas também, e sobretudo, uma sabedoria de humanismo e de contemplação», «porque quem combate possui a capacidade de ele próprio, ser fonte de esperança. Quando todas as possibilidades definham e a alma entra num crepúsculo sem metas, a simples promessa da proximidade de um combatente é razão suficiente para manter acesa a chama da vida a pulsar dentro de qualquer ser humano…enquanto existam mulheres e homens dispostos a verter o próprio sangue pelos outros, existe vida.»

«Sim, “combatente” significou sempre defesa e esperança. É por isso que hoje, volvendo o olhar para trás, conseguimos vislumbrar luzeiros de esperança e de coragem em passados noturnos e, por vezes, sombrios: é a obra daqueles que não hesitaram avançar para o campo da honra e bater-se pela pátria, pelo bem dos povos e dos portugueses, mesmo em solo ultramarino, mesmo numa terra de além mar.

É, pois, uma necessidade, e não apenas um dever, agradecer aos muitos soldados que derramaram o seu sangue pela paz entre os povos no campo de batalha.»

Combatentes que, segundo o Bispo Castrense, nos fazem contemplar as «paisagens de uma história construída nos campos da honra que continua a ser escrita pelos gestos e feitos dos combatentes do presente. Mas são também eles que nos devolvem aos verdadeiros alicerces da Nação Portuguesa, tendo como principal vocação e fundamental sina combater… Graças à ação dos que responderam “sim” ao apelo de Deus e do povo, ergueu-se uma Nação, a qual foi, ao longo de séculos e de muitas vicissitudes, sustentada por sucessivos combates. Nada de relevante conseguiu Portugal que não tivesse sido obra e fruto do combater: a nossa autonomia, a nossa independência, a nossa liberdade e até a democracia. Tudo obra dos que puseram a própria vida ao serviço da Pátria.»

Para D. Rui a posição geostratégica de Portugal é a “universalidade”,  um outro apelo que ressoa da alma portuguesa. «Tudo tem a sua origem na arte desenvolvida por aqueles que viveram não para si, mas para os outros. De facto, a abertura aos outros para com eles estabelecer laços sólidos e alianças firmes, na reciprocidade do dar e do receber, exige hoje como ontem, a fadiga de combater o individualismo e a autorreferencialidade absoluta.

Por isso, hoje, a celebração dos Combatentes conduz naturalmente à celebração da sua obra, a mais vistosa das quais foi e é Portugal. Mas também a sua independência e autodeterminação; a sua universalidade e democracia, o sentido de Nação una e indivisível. Ou seja, a ação deles forjou a alma portuguesa. E em tudo eles deixam a sua marca indelével.

Hoje celebramos os alicerces da nossa identidade. Ela é caracterizada por uma natural tendência tão nossa, tão portuguesa, de lançar-se no combate para alcançar o pretendido. Celebrar os heróis do Combate no mesmo dia em que celebramos Portugal é homenagear a aliança indissolúvel do país com a gesta de ilustres soldados. Eles defrontaram e travaram batalhas tanto em terra, como no mar e no ar e, com esses feitos tão gloriosos, rasgaram os horizontes de uma Nação, oferecendo-lhe como referências absolutas a lealdade, a honra, a verdade, o heroísmo e o espírito de sacrifício.»

Concluía a sua homilia dizendo que a Nação não se constitui apenas por um conjunto de habitantes, explicando que «para que um conjunto de pessoas se transforme numa nação é preciso que essa pluralidade se identifique com um universo de valores construído e sedimentado ao longo de séculos. E Portugal pôde consolidar tal sistema de valores ao longo da sua multissecular idade» precisamente graças aos «heróis, os que derramaram o seu sangue pela sua criação, os que pereceram pela existência de um lar geográfico e cultural que um povo haveria de reivindicar. Foram esses que deram vida a esta comunidade de pessoas, de ideias, de formas de estar, de costumes, de sensibilidades a que chamamos a nação portuguesa. Encastoada entre os reinos vizinhos e o oceano, esta nação pôde sobreviver contra todas as expectativas, mantendo a sua identidade e projetando-se no mundo como comunidade de comunidades.»

As comemorações do Dia de Portugal começaram no domingo, no centro da cidade de Portalegre e terminam amanhã em Cabo Verde, na cidade do Mindelo, com a presença do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e do primeiro-ministro, António Costa e os ministros da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.