Que um padre ou bispo faça um discurso religioso, nada de especial. Mas que um General saiba partilhar a sua fé, isso é assinalável.
No almoço da celebração pascal da Brigada Mecanizada, de Santa Margarida, o Ex.mo Comandante, GEN Luís Nunes da Fonseca, proferiu as seguintes palavras que aqui se registam como expressão de uma fina sensibilidade e uma fé bem inculturada.
ALOCUÇÃO DO COMANDANTE DA BRIGMEC
POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO PASCAL
SANTA MARGARIDA, 19 DE ABRIL DE 2017
Antes de mais, gostaria de evocar os melhores de nós, os que não podem estar aqui fisicamente, mas estão connosco em pensamento. Refiro-me aos Oficiais, Sargentos e Praças desta Brigada, que se encontram em missão no Iraque, no Koweit e na República Centro-Africana, ao serviço do Exército Português e dos superiores interesses nacionais. Para eles, os votos de continuação de boa missão e de um regresso em segurança a casa!
Exmo. Senhor Bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Manuel Linda, Excelência Reverendíssima,
Uma vez mais, concede-nos V. Ex.ª a excelsa honra de presidir à Comunhão Pascal na BrigMec, distinção essa que é replicada com renovados sentimentos de alegria e orgulho, percetíveis nos rostos e atitudes dos militares e civis e respetivas famílias, que labutam e vivem em Santa Margarida. Um grande bem-haja, Senhor Bispo!
Exmos. Sr. Presidente da JF Sta. Margarida da Coutada, Srs. representantes do Núcleo de Sta. Margarida da Coutada da Liga dos Combatentes e Sr. Capelão do RE 1.
Um sincero obrigado por se haverem dignado associar-se a nós nesta Celebração Pascal, conferindo-lhe assim, acrescido brilho e relevância.
Exmos. Srs. Cmdts e adjuntos das UU da brigada e do CMSM e Capelão da BrigMec,
Impõe-se, antes de mais, assinalar e enaltecer a magnífica disponibilidade, o enorme gosto e a genuína boa vontade manifestados por toda a gente que, sob o V. Comando ou coordenação, tomou parte no evento, bem como o trabalho e o diligente esforço empreendidos aos vários níveis, em prol da preparação e edificação desta festa religiosa, que nos dignifica e prestigia sobremaneira. Desde a Guarda de Honra ao Altar, aos instrumentistas e ao coro, passando pelo pessoal que incansavelmente preparou, confecionou e serviu este frugal, mas excelente almoço e irá depois, proceder ao levantamento, lavagem dos utensílios e à limpeza e arrumação dos espaços, o nosso imenso obrigado, pelo inexcedível desempenho!
Prezados camaradas de armas,
Ilustres convidados,
No calendário litúrgico, o momento que atravessamos é especialmente consagrado à paixão e à ressurreição de Jesus Cristo, justamente 3 dias após a Sua morte, facto que se crê tenha ocorrido entre 27 e 33 d.C.. É um tempo de recolhimento, de penitência e também de festa, particularmente sentido e celebrado em Portugal, onde a tradição, a cultura e a devoção religiosa do povo estão densamente enraizadas.
A Instituição Militar, preservadora e fomentadora dos usos, costumes e dos valores, não poderia obviamente, deixar de se associar também às comemorações da Páscoa…
Mas o que significa comemorar a Páscoa?
Para além da celebração da vitória da Vida sobre a Morte, este período é, acima de tudo, o da evocação de um Homem simples, de um Homem nobre que, desapegada e altruisticamente, padeceu de forma atroz e foi imolado, prescindindo voluntariamente do bem único e de inestimável valor – a sua Vida – em prol da salvação de todos os homens!
É esta a essência e a finalidade da Celebração Pascal: render a devida homenagem a esse Herói, que se dispôs, valorosamente, a sacrificar-se pelos seus semelhantes!
Para todos nós e, sobretudo, para os Militares, o Seu gesto abnegado é credor de todo o nosso respeito e admiração independentemente das nossas convicções religiosas e deverá também constituir uma das mais distintas referências, porquanto a nossa missão, que radica no serviço em benefício da comunidade, poderá também, em última instância, ditar o sacrifício supremo…
Nesse sentido, faço votos de que, paralelamente à comemoração desta quadra, a Páscoa possa também ser um momento de pausa e introspeção sobre o nosso modo de vida atual, intenso, frenético e extenuante, ditado cada vez mais por preocupações egocêntricas fundadas em aspirações de ordem material, onde a busca constante, a todo o preço, do conforto e do bem-estar e da acumulação de bens, adquire primazia em detrimento dos preceitos éticos, morais e sociais, que deverão constituir um firme sustentáculo da sociedade.
Que o exemplo de Cristo, que morreu na cruz há cerca de dois mil anos por nós, permita reconsiderar as nossas prioridades, redirecionar os nossos desvios, reafetar as nossas energias e revigorar a nossa alma, em ordem a um efetivo desempenho quotidiano, mais inspirado em princípios humanistas, de equidade, de fraternidade e de solidariedade e mais centrado no primado do coletivo sobre o indivíduo.
A continuação de uma Páscoa muito feliz para todos!