Da Trincheira ao Capim
Mas quando o perigo mina
E a morte mora ao lado,
Companhia é Divina
E o Cristo é chamado.
Seja Cristo das Trincheiras,
Seja Cristo do Capim
Seja falsa ou verdadeira
É a Fé que fala assim.
(Joaquim Chito Rodrigues, in Caminhos… dos Valores, da Guerra e da Paz).
Todo o soldado que combate na frente coloca nas mãos do Altíssimo a proteção da sua vida e a integridade moral e ética da sua conduta. Ambas são importantes: a vida porque é dom de Deus. E é ela que nos permite amar, servir, sonhar, enfim ser e existir; e é também a vida que consente ao soldado que sobrevive à guerra de regressar para juntos de quem ama, tantas vezes com a alma rasgada de feridas difíceis de sarar e, com frequência, com o corpo, ou partes dele decepados.
Mas o soldado necessita igualmente de salvaguardar a sua incorruptibilidade moral e ética porque, em combate, é fácil ultrapassar determinados limites, é fácil resvalar na inumanidade… Por isso, quem atuou ou atua numa frente de batalha, entrega com naturalidade e espontaneamente, a sua vida, a justeza dos seus atos e a retidão do seu agir naquele Cristo que o soldado sente a seu lado, a caminhar com ele, e a envolvê-lo com o manto da Sua divina graça.
Foi na senda desta mística que, inspirada no poema do General Chito Rodrigues, a artista plástica Ivone Gaipi esculpiu o Cristo do Capim, recorrendo à técnica do body casting, isto é, baseando-se em moldes reais do corpo humano, associando a pintura e símbolos.
E assim, neste dia 24 de fevereiro de 2021, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Almirante António Manuel Fernandes da Silva Ribeiro, ofereceu à Igreja da Memória, Sé da Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança, o Cristo do Capim.
Na singela cerimónia de bênção da Imagem, presidida por D. Rui Valério, foram evocados todos os que serviram Portugal no trágico conflito.