Transcreve-se, de seguida, a acta da reunião do último Conselho Pastoral. O tema único prendia-se com as problemáticas juvenis e o contributo dos capelães para a sua superação.

No dia 9 de Janeiro de 2018 reuniu-se o Conselho Pastoral presidido por Sua Exª Rvma D. Manuel Linda, Bispo das Forças Armadas e de Segurança.

Estiveram presentes: Padre José Ilídio, Vigário Geral Castrense e Capelão Adjunto para a Marinha; Comandante Ricardo Guerreiro que exerce funções no Estado-Maior da Armada; Tenente Coronel Moreira, Chefe do Serviço de Bandas e Fanfarras; Padre Joaquim Martins, Capelão Adjunto para a Força Aérea; SAJ Manuel Baltar da Assistência Religiosa da Força Aérea; Padre Fernando Monteiro, capelão do RAAA1 e Chanceler da Cúria Diocesana; SAJ Joaquim Marçalo da Capelania Mor; SAJ Esteves, Diácono Permanente, colocado no Serviço de Assistência Religiosa do Exército; Padre Fanha, capelão da PSP; SCH Pedrinho, chefe do Núcleo de Apoio ao Serviço de Assistência Religiosa da GNR; Padre Jorge Matos, Capelão Adjunto para o Exército; Padre Agostinho de Freitas, Capelão Adjunto para a GNR; Superintendente Chefe Pedro Clemente, Diretor do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna.

O Sr. Bispo começou por agradecer a presença de todos e por realçar a importância do Conselho Pastoral para que no diálogo uns com os outros se ir descobrindo como está o mundo, e mais concretamente o mundo Militar e das Forças de Segurança e como é que nós, o Ordinariato Castrense, nos aspetos negativos, poderíamos intervir para ajudar a melhorar o que está mal. Nesta linha o presidente da reunião colocou na mesa a Problemática Juvenil. Começando por referir que os jovens que temos são de um nível cultural que há anos atrás era inimaginável encontrar e com ótimos valores, mas também portadores de algumas fragilidades e era precisamente sobre este aspeto que o CP se deveria debruçar para que, mais que fazer um diagnóstico, descobrir como é que os capelães e outras pessoas dentro da Organização Militar podem ajudar a suprir essas carências. Entre essas problemáticas estão os endividamentos por motivo dos jogos on-line, o materialismo, no sentido de “chapa ganha chapa gasta”, a dificuldade de aguentar níveis elevados de stress, o sedentarismo, os divertimentos associados a excentricidades, a maturidade emocional tardia…

Será que o capelão pode ter alguma intervenção? De que género? Palestras? Falar pessoalmente com os militares envolvidos? Estar atento para dar conta dos problemas que existem? Como dar a conhecer que as Unidades possuem um capelão, e publicitar os contactos e momentos para falar com ele, se necessário? Foram estas algumas das questões colocadas e sobre as quais, depois, cada um dos presentes foi convidado a falar.

Uma das primeiras constatações foi de que, logicamente, este é um problema transversal a toda a sociedade e não apenas das Forças Armadas e Forças de Segurança.

A dúvida está em como cativar, como chamar a atenção. Muitas vezes os alertas feitos são mal acolhidos, mas o melhor caminho a seguir é precisamente o da aproximação pessoal, o da relação pessoal com os que estão a passar por esses problemas. Por vezes os debates ou palestras não são muito bem recebidos, por serem aborrecidos ou por os problemas não serem abordados da melhor forma – muitas vezes os conteúdos não se adaptam às novas realidades! Esses espaços formativos continuam a existir, ainda que menos regularmente, e devem ser aproveitados, pelos capelães, para esses debates e transmissão de valores que ajudem os jovens a superar as suas dúvidas, dificuldades e carências de qualquer natureza. Não apenas para “dar catequese”, mas para abordar assuntos que vão de encontro aos seus problemas concretos. Mas não são estes momentos que mudam os comportamentos. Os jovens de hoje têm um modo de viver muito próprio, refugiam-se no seu mundo, têm défice de horizontes e falta de atenção afetiva por parte dos seus pais e só conquistando-os pela confiança, com a amizade, é que se poderá passar por um aconselhamento pessoal e concreto. E o capelão pode ser esse alguém em quem eles confiam e que os ajude a ter horizontes, a “tirarem os olhos dos telemóveis” e a olharem para longe, a deixarem o egoísmo que os isola do mundo e os ajudem a viver com os outros.

Mas se esta aproximação pode parecer facilitada nas Forças Armadas, uma vez que os militares se encontram concentrados, nas Forças de Segurança, devido à dispersão, é muito mais complicado. Nestes casos por parte dos capelães deve haver uma atitude proactiva. São poucos os que procuram o capelão, tem de ser o capelão a ir ao encontro dos militares e ou agentes, tem de haver um zelo apostólico que permita ao capelão prever e ajudar a evitar os problemas que muitas vezes acontecem.

E os problemas encontrados tanto na GNR como na PSP tem muito a ver precisamente com esta dispersão, dispersão territorial e de horários – há comandantes de esquadra que demoram um ano a conhecer os homens todos! Existe uma grande desestruturação familiar, muitos divórcios e endividamentos por parte daqueles, normalmente os mais jovens, que se encontram longe das suas terras nos grandes centros urbanos. Alguns alunos, mesmo na Quadra do Natal, não se deslocam a suas casas para estarem com as famílias (porque não uma Celebração para estes elementos desenquadrados do ambiente familiar)! Além deste desenquadramento familiar, a ideia de Família tal como a conhecemos está longe de ser acolhida pelos mais jovens! Constata-se que os jovens de hoje a nível de afetos são muito mais deficitários, não conseguindo superar as dificuldades com a mesma facilidade dos jovens de há uns anos atrás. Há uma grande inconstância emocional, principalmente por parte dos elementos femininos. Mas se antes não havia apoio de Psicologia Clínica hoje, concretamente na PSP, já existe uma cobertura Nacional de Psicologia Clínica, nos Serviços Sociais há Assistentes Sociais, que antes não havia, há técnicos juristas em financeira e questões de dívidas e de contratos com créditos bancários e todos os casos são analisados e ponderados. Apesar de todo este apoio os problemas continuam a existir. Os nossos jovens continuam a ser muito assediados e continuam a endividar-se porque a própria pressão familiar e social lhes impõem um modelo de vida de ostentação que eles não têm capacidade de sustentar. Normalmente os suicídios têm a ver com questões passionais ou económicas e quase sempre relacionadas, apesar de todos os rastreios!

Num panorama destes, o Serviço de Assistência Religiosa, que é cada vez mais necessário, deve ter em conta a marcação da programação das atividades para não coincidir com a atividade operacional ou letiva das várias Escolas de Formação. Quanto mais antecipadamente se tiver uma programação de atividades religiosas, mais facilmente se poderá coordenar com as outras atividades. Sublinhou-se a importância das atividades em conjunto com as várias Academias, que são muito apreciadas, mesmo pelas famílias que se deslocam para estar junto dos seus filhos, principalmente nas grandes celebrações.

Terminou a reunião relevando-se a importância de se poder também investir nas áreas de responsabilidade social, envolvendo militares e agentes, que, como quase todos os jovens e dada a natureza da sua missão, ficam muito entusiasmados e são muito sensíveis a este tipo de iniciativas. Deve ser uma área a explorar pelos capelães como forma de os cativar e responsabilizar para outras acções.