Como já noticiamos, o Ministro da Defesa, Prof. Doutor Azeredo Lopes, condecorou, dia 3 de abril, no Salão Nobre do MDN, D. Manuel Linda com a Medalha da Defesa Nacional 1ª Classe, salientando “a sua ação dinâmica, sensata e determinada” muito relevante para o desenvolvimento do moral e bem-estar das Forças Armadas.
Transcrevemos a alocução proferida pelo sr. Bispo perante, para além do sr. Ministro da Defesa, o Ministro da Administração Interna, Prof. Doutor Eduardo Cabrita, o Secretário de Estado da Defesa Nacional, Doutor Marcos Perestrello, o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, Almirante António da Silva Ribeiro, os chefes dos Ramos, o Comandante Geral da Guarda Nacional Republicana, o Director Nacional Adjunto da Policia em representação do Director Nacional e demais entidades representantes de organismos dependentes da Defesa Nacional e da Administração Interna, incluindo o Director da Direcção Geral de Recursos da Defesa Nacional, Doutor Alberto Coelho.
Atribui-se ao nosso D. João VI a conhecida frase que ressoa simplicidade sem afectação: “Sei que não mereço louvores. Mas lá que gosto deles…isso gosto”.
Neste momento, ainda meio confundido pela amabilidade e pela surpresa, peço emprestadas estas reais palavras, acentuando muito a primeira parte: efectivamente, não mereço esta condecoração e o louvor que ela exprime. Apenas cumpri o meu dever de Capelão Chefe para o qual fui nomeado há quatro anos e poucos dias. Ora, como lhe está inerente, o dever é algo que tem de se executar em função dos compromissos assumidos. Portanto, nada de particularmente valorizável.
Não obstante, SEXA o senhor Ministro da Defesa Nacional entendeu assinalar, deste modo, a minha presença no meio castrense. Porém, isso não garante a minha exemplaridade: o que atesta é a lhaneza de carácter e a fidalguia de quem me atribui a condecoração. Da minha parte, penhorado, digo apenas, no português castiço, um sentido “bem-haja”.
Exerci as minhas funções como cidadão, na plenitude dos meus direitos e deveres, e como homem de religião. E creio que nenhuma destas dimensões submergiu ou extinguiu a outra. Como cidadão, conhecedor da estrutura hierárquica para o funcionamento da sociedade, procurei respeitar as estruturas de direcção e jamais abusei do poder na relação com os subordinados. Como homem de religião, nunca neguei que estava aqui para ir ao encontro das aspirações espirituais dos militares e policias, mas sem impor nada, sem agredir as convicções ou a falta delas. Sem me arvorar em exemplo, creio, pois, que é possível demonstrar ao Estado laico – e que deve ser isso mesmo, laico, embora respeitador das crenças dos seus cidadãos que não são laicos – que pode cumprir o regime legal e concordatário sem temor, porquanto ninguém de bom senso entra nesta área para fazer proselitismo barato ou para impor qualquer género de crenças. Pelo contrário, a assistência religiosa é a expressão daquele companheirismo de existência, sentido do humano integral, ajuda às carências de todo o género, ombro amigo para o desabafo e o conforto, presença cimentadora dos próprios laços familiares e grupais, auxílio ao comando, etc. E só depois é que entra a relação com o Sobrenatural.
Nesta linha, seja-me permitido manifestar o meu absoluto espanto pela forma calorosa e dedicadíssima como os militares e polícias de Portugal me trataram desde o primeiro momento. Como, para além da amizade e da muito elevada consideração, eu mais nada lhes fiz, só posso formular uma conclusão lógica: trata-se de homens e mulheres portadores de tal formação e consciência de serviço que prestam que constituem, sem qualquer sombra de dúvida, uma das mais altas e eloquentes reservas morais da Nação. Sinceros parabéns, caros membros das Forças Armadas e de Segurança.
Ex.mos Senhores Ministros, caros Chefes de Estado-Maior ou equivalente, minhas senhoras e meus senhores, as novas funções que iniciarei brevemente reclamarão frequentes contactos com diversos níveis da Administração Pública e com as Forças Armadas e as Forças de Segurança. Aquela saiba que a respeitarei sempre e que nós, em Igreja, já desde o princípio, incluímos “os nossos governantes” na nossa oração diária; estas tenham a certeza de que, onde eu estiver, estará um paladino da sua defesa e consideração, pois farei ver como os valores da paz, da liberdade, da coesão social e da garantia do funcionamento do sistema democrático se devem, em enorme parte, ao seu difícil e arriscado contributo.
Ex.mo senhor Ministro, se desta condecoração não sou credor, espero vir a tornar-me dela merecedor. Muito obrigado.
+Manuel Linda