Celebram-se os 152 Anos da Polícia de Segurança Pública
Para assinalar a efeméride realizou-se hoje, 11 de junho, nos Jerónimos, uma Celebração Litúrgica presidida pelo Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, D. Rui Valério.
“Esperança, memória e segurança” foram as três palavras escolhidas pelo prelado para evocar a gloriosa história de 152 anos desta força policial.
HOMILIA NO 152 ANIVERSÁRIO DA PSP EM PORTUGAL
11 de julho na Festa de S. Bento
O famoso teólogo alemão Elmar Salmann tem o hábito de dizer que a milenar Ordem Beneditina, a que pertence e cujo fundador, S. Bento, hoje celebramos, já provou tudo o que tinha a provar; não precisa, pois, de provar mais nada.
O mesmo pode dizer hoje a PSP dos seus gloriosos 152 anos de existência. Não só já deu cabais provas do caráter que a anima e da dedicação do seu desempenho e missão, como todos os dias o continua a fazer no terreno, no concreto da cidade e em prol dos cidadãos.
Nesta celebração maior, três palavras, que quero evocar, recolhem a notável história desses 152 anos: esperança, memória e segurança.
1. ESPERANÇA. Caros Polícias, graças a vós, ao vosso múnus e à vossa dedicação, vivemos hoje numa sociedade mais segura, onde é possível realizarmo-nos enquanto seres humanos. Temos, portanto, fundadas razões para acreditar no futuro e deixar-nos mover pela esperança.
É com base na segurança, que vós criais e construis e que brota do vosso desempenho, que é possível edificar cidades e territórios dinâmicos, ativos, abertos ao futuro, onde haja investimento e desenvolvimento.
De entre os valores positivos de Portugal, que hoje são universalmente reconhecidos e sobejamente salientados em qualquer parte do mundo, já não estão apenas a beleza do sol, a proverbial hospitalidade ou a riqueza cultural do nosso povo, há também o país seguro e as cidades seguras onde habitamos em cordial equilíbrio. E é a partir desta realidade fundamental que se foram construindo muitos outros dados positivos como o turismo, o elevado índice de desenvolvimento tecnológico e científico que serve a procura interna, mas também exportamos. Na verdade, dizer PSP é falar de futuro e de esperança.
2. Mas hoje é fundamentalmente um dia de MEMÓRIA e GRATIDÃO. É Portugal quem agradece a todos aqueles que, ao longo destes 152 anos de vida e ação, têm sido um dos pilares fundamentais do edifício da Nação. Nesta solene hora de reconhecimento, prestemos a nossa sentida homenagem aos que serviram Portugal na Polícia e que já partiram para a bem-aventurada esquadra eterna. Sobre os Polícias do passado, como de vós, que sois o presente, ergue-se majestoso um Estado, um país, uma cidade assente na liberdade e na certeza de que a justiça e a segurança pública são fruto de dedicação, de entrega, de espírito de serviço, protagonizados por profissionais formados nos mais elevados padrões da ordem, da equidade e da defesa intransigente da dignidade e da vida humana.
3.1. A Palavra de Deus proclamava na primeira leitura: «Ele, o Senhor, reserva aos homens retos a sua proteção, é um escudo para os que vivem honestamente.»
Estas palavras estabelecem uma maravilhosa aliança entre segurança e retidão, entre ser protegido e honestidade. Por um lado, abre caminhos que mostram como a segurança é um valor humanizador e civilizacional; por outro, tem também um caráter e um alcance ético. De facto, remete-nos para a defesa e promoção da dignidade da pessoa humana e para a salvaguarda do bem comum. Só é possível alcançar significativos níveis de humanismo nas sociedades cuja grandeza, desenvolvimento e progresso resultam não do atropelo aos direitos dos cidadãos, mas da sua afirmação e intransigente salvaguarda.
Tendo em consideração que a sociedade atual apresenta preocupantes níveis de entropia, sobretudo por causa de um certo individualismo egoísta que mina a ordem social, a Polícia torna-se, com o seu carisma e ação, referência modelar, com vista a resgatar os cidadãos dos seus múltiplos e aflitivos problemas, reconstruindo as suas tantas vezes problemáticas existências. A Palavra de Deus afirma e a experiência confirma que a segurança conduz à ética, aos valores que dão sentido ao agir humano. A obra de garantir a Segurança da cidade, própria da Polícia, reveste-se de elevada relevância e importância civilizacional e humanista. De facto, permite que a vida coletiva seja configurada a partir dos valores da justiça e da humanidade. E isto que acabámos de referir é simultaneamente uma constatação e um apelo a terdes sempre presente que, quando construís segurança, estais, ao mesmo tempo, a edificar uma sociedade verdadeiramente humana.
Congratulo-me convosco, caros Polícias, por nunca enjeitardes uma solicitação, por nunca vos negardes a uma missão, por mais difícil que possa ser, por manifestardes permanentemente a vossa disponibilidade para o serviço. E há que reconhecer o vosso papel de grande alcance social. De facto, não resolveis apenas a briga, nem acalmais apenas a rixa… As vossas intervenções revestem-se de um sentido superior, um sentido que envolve a autêntica cidadania e a construçãode cidades humanamente habitáveis, onde os cidadãos se reconheçam e se respeitem.
3.1. Por outro lado, a mesma Palavra de Deus “o Senhor reserva aos homens retos a sua proteção, é um escudo para os que vivem honestamente”leva-nos a deduzir que a segurança é a recompensa e o prémio dado aos que são retos e honestos. Este dado revela bem o altíssimo valor que é atribuído à garantia da segurança. É tão preciosa que, para a Bíblia, constitui a retribuição que o Senhor Deus dá aos justos e aos honestos. Ou seja, é um bem messiânico.
Parabéns, caros Polícias! O fruto do vosso labor é o valor precioso da segurança. Todos os dias, ao gerardes segurança com o vosso labor e desempenho, estais a oferecer aos cidadãos um valioso tesouro, um bem incomensurável.
Com uma nuance: vós ofereceis segurança a todos, não só às pessoas retas, também às que o não são, não só às honestas, também às desonestas. Estais, pois, na linha do Novo Testamento e da novidade introduzida por Jesus que deu a sua vida pelos justos, mas também pelos pecadores.
A Polícia de Segurança Pública tem sido testemunha de uma segurança e ordem temperada pela misericórdia. É o que significa proteger a todos, tanto aos bons como aos maus, aos justos como aos injustos, às pessoas de bem e aos criminosos. Nisso reside a vossa configuração aos novos padrões de vida inaugurados por Jesus que a todos oferecia a bênção da sua salvação: “não vim para os que não necessitam de salvação, mas para os pecadores”. “Não são os sãos que necessitam de médico, mas os doentes”.
Com esta postura fundamental na arte de conduzir a vossa ação, estais de acordo com o Vosso Patrono, São Miguel. De facto, é muito significativo e sugestivo que iconograficamente se apresente com uma balança numa das mãos. Prescindindo do seu significado teológico, a balança serve obviamente para pesar. O que para a Polícia tem peso, ou seja, o que mais conta, o que mais pesa é, sem dúvida, a defesa do ser humano, de todos, e a salvaguarda da sua dignidade. Estes são os valores determinantes que sois chamados a pesar no prato da balança do vosso dia a dia.
4. Caros Polícias, no Evangelho que escutámos, S. Pedro declara a Jesus: «Nós deixámos tudo para Te seguir. Que recompensa teremos?» A afirmação «deixámos tudo» pode, em bom rigor, ser pronunciada por qualquer um de vós: quantas não são as ocasiões em que deixais a vossa casa, os vossos irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, terras,para irdes defender vidas, proteger gente frágil em situação de grande debilidade, acudir a quem precisa de ajuda, incrementar e salvaguardar o estado de direito!? Mas também para vós serve a resposta de Jesus à pergunta «que recompensa teremos?». De facto, também vós «recebereis cem vezes mais». A recompensa da vossa ação, tantas vezes realizada sob o peso do sacrifício e no absurdo da incompreensão, é, na verdade, imensa porque se realiza sempre que reconheceis que, graças a vós, as nossas cidades vivem tranquilas e serenas; graças a vós, somos um país apetecível para visitar e para investir; graças a vós, o cidadão sabe que a qualquer hora da noite ou do dia pode pedir socorro e será atendido… Essa é a maior recompensa do vosso árduo e difícil trabalho.
De facto, Portugal é hoje, reconhecidamente, um país constituído por comunidades com elevados padrões de segurança. Isso permite-lhe ser uma sociedade onde nascem, florescem e são respeitados os mais altos valores éticos. Não obstante o que ainda falta fazer, e é muito, o facto é que os elevados índices de segurança revelam que habitamos numa sociedade onde alguns valores fundamentais estão bem sedimentados. E ouso dizê-lo: com o amplo contributo da PSP.
O primeiro desses valores, em consonância com a Palavra de Deus, é a justiça: “Ele protege os caminhos da justiça… então compreenderás a justiça e o direito”. A justiça, no seu sentido mais profundo, remete-nos para a equidade. Intrínseca à sua estrutura está a harmonia; pois, quando todos se sentem iguais em dignidade e em direitos e veem respeitada essa igualdade fundamental na forma como a sociedade gere os seus recursos, criam-se as condições para uma existência comunitária pautada pela harmonia entre pessoas e grupos sociais, por mais diversos que eles sejam. Quando, no cumprimento do dever, aplicais a máxima da salvaguarda da justiça, estais a construir não só uma sociedade mais justa, mas, ouso dizê-lo, mais fraterna.
5. Hoje, no dia de memória e de ação de graças pelo centésimo quinquagésimo segundo aniversário da Polícia de Segurança Pública, celebramos a Festa de São Bento, patrono da Europa. O seu lema «ora et labora; reza e trabalha» ressoa ainda hoje e é um convite a cultivar na vida um equilíbrio entre momentos de reflexão, de silêncio, de paz e tempo dedicado ao trabalho. Vivemos hoje tempos complexos em que a vida, com os seus ritmos verdadeiramente estonteantes, não nos deixa muita margem para a tranquilidade e para a paz interior. E, no entanto, estas experiências espirituais são imprescindíveis e decisivas porque é nesses momentos de interioridade, de reflexão, de espiritualidade, que cultivamos a dimensão daquilo que efetivamente somos, aquilo que nos caracteriza enquanto seres humanos e pessoas. A construção desta nossa incontornável identidade cultiva-se por meio do silêncio, contanto que sejamos capazes de deter a azáfama da vida, e por meio do tempo dedicado à vida espiritual.
São Bento lança-nos, pois, este repto «ora e trabalha»: quem vive só para o trabalho, para o fazer, para o realizar, facilmente perde o sentido da vida. E quando se perde o sentido da vida, perde-se igualmente o sentido das ações concretas que todos os dias somos chamados a realizar.
Que São Miguel Arcanjo proteja a sua Polícia de Segurança Pública, a guie e a acompanhe. Amen!