Hoje é o Dia da Marinha.

O Dia da Marinha celebra-se a 20 de maio em homenagem ao grande feito de Vasco da Gama que neste dia, em 1498, pela primeira vez na história, ligou, por via marítima, a Europa ao Oriente, com a chegada a Calecute, na Índia.

Este dia celebra a aliança entre Portugal e o Mar. Uma aliança secular que explica a vocação marítima dos portugueses, a sua atração pelo Mar; mas sobretudo explica a presença na alma lusa de uma espiritualidade e de uma mística que muito tem do Mar, como a saudade, a coragem, o apelo a partir, o gosto de ir ao encontro, a sensibilidade do saber acolher, a coragem… e tudo isto como rotas que nos conduzem ao mesmo destino, ao mesmo horizonte que é o Absoluto, Deus Nosso Senhor.

Este dia faz memória do feito irrepetível de Portugal, precisamente através do mar, ter dado Novos Mundos ao Mundo.

Mas é também o dia para homenagear a grande Família Naval, todas as mulheres e homens que, na sua vocação e com a sua entrega, servem Portugal. Sobre eles testemunha a abertura d’ Os Lusíadas quando Camões se propõe cantar os heróis que partiram “da Ocidental praia lusitana” e, “por mares nunca dantes navegados”, chegaram aos mais remotos confins do mundo, passando por toda a espécie de perigos e guerras, “mais do que prometia a força humana”, contribuindo para a edificação de uma civilização global e planetária.

Hoje, a nossa homenagem à Marinha vem acompanhada de uma magnífica página do Diário de Miguel Torga, sobre um dia passado na praia da Nazaré, onde escreve sobre a vocação do mar para aproximar pessoas desconhecidos, criando nelas um espírito de fraternidade:

“Chegou a hora do banho. Entrei no seio do formigueiro de gente que fervilhava dentro de água, humanidade até há pouco hostil e individual, e agora milagrosamente fraterna e solidária.

– Há pé? – Não, cuidado! – Venha! – Pode avançar sem medo!

– Tome ar fundo! – Mergulhe!

Como se uma bênção os tivesse irmanado, eram todos um corpo só diante da mesma onda.

E eu pus-me a pensar na força gregária que tem o mar. Na força gregária que provoca, afinal, qualquer poder adverso. Que só enterrados até metade no enigma de um perigo, que num segundo os pode engolir, os homens se abraçam.”

A força do Mar está, certo, na imensa capacidade da sua água levar imponentes navios de um continente ao outro, mas – eis a sua grande força – transforma qualquer desconhecido em companheiro de ventura e aventura…

Talvez por lhe pertencer esse dom de criar comunhão, de suscitar solidariedade, de fazer companheiros de rota, explique o fascínio do próprio Jesus pelo Mar. Foi aí que procurou e chamou os primeiros discípulos, também no mar manifestou a sua divina condição, e também junto ao mar apareceu aos Seus quando Ressuscitou.

Mar chão e ventos de feição!