Transcrevemos o discurso proferido por D. Rui Valério no momento da tomada de posse como Capelão-Chefe do Ordinariato Castrense. 
A cerimónia aconteceu hoje, dia 3 de dezembro, no Salão Nobre do Ministério da Defesa.
Estiveram presentes os Ministros da Defesa e da Administração Interna, o Núncio Apostólico e o Cardeal Patriarca de Lisboa.

Excelentíssimo Senhor Ministro da Defesa Nacional
Excelentíssimo Senhor Ministro da Administração Interna
Eminência Reverendíssima Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
Excelentíssimo Senhor Núncio Apostólico
Excelentíssimo Senhor Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas
Excelentíssima Senhora Secretária de Estado da Defesa Nacional
Excelentíssimo Senhor Presidente da Comissão de Defesa Nacional
Excelentíssimo Senhor Chefe de Estado Maior da Força Aérea
Excelentíssimo Senhor Chefe de Estado Maior da Armada
Excelentíssimo Senhor Chefe de Estado Maior do Exército
Excelentíssimo Senhor Comandante da Guarda Nacional Republicana
Excelentíssimo Senhor Diretor Geral da Polícia de Segurança Pública
Senhores Almirantes e Oficiais Generais
Excelentíssimos Senhores Dirigentes do Ministério da Defesa Nacional
Excelentíssimos Senhores Capelães
Minhas Senhoras e Meus Senhores

A minha primeira palavra, que de imediato traduz o meu sentir mais profundo, é de agradecimento à Igreja, ao Governo Português e às Forças Armadas e Forças de Segurança.
À Igreja, nas pessoas de Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e de Sua Excelência o Senhor Núncio Apostólico, fiel referência de Sua Santidade, o Papa Francisco, pela minha eleição e nomeação.
Ao Governo Português, na pessoa de Sua Excelência o Senhor Ministro da Defesa Nacional e de Sua Excelência o Senhor Ministro da Administração Interna, pela designação da minha pessoa para Capelão-Chefe da Igreja Católica de Portugal.
Às Forças Armadas e forças de segurança, nas pessoas de suas excelentíssimas chefias, pela disponibilidade em acolher alguém que, como vós e convosco, quer servir.
`​Pressinto esta nomeação como um ato de confiança realmente imerecido, o qual revela uma admirável generosidade. De facto, estou ciente de que a única prova por mim dada, em abono desta incomensurável confiança, foi o tempo de Capelão Militar e de alguns anos enquanto pároco… Por isso, sendo-me difícil compreender inteiramente as razões da nomeação de que fui investido, entendo-a como um apelo ao desempenho diligente de novas tarefas e sinto-me impelido a corresponder-lhe com sentido de responsabilidade, lealdade cooperante e espírito de honra.
Com sentido de responsabilidade, porque estou ciente de que a missão que me é confiada, como esclarece o decreto-lei que a enquadra, situa-se no âmbito da assistência religiosa nas Forças Armadas e forças de segurança. Tenho presente, até pela experiência já feita e adquirida, que se trata de um campo de ação não limitado ao culto ou à liturgia; envolve também a solidariedade em tudo e com todos; disponibilidade em acolher quem nos procura, movido pelas mais diversas e, às vezes, complexas razões; implica apoio social; atenção a todos, sobretudo aos que se encontram em situação de fragilidade; inclui sabedoria na camaradagem; uma incansável demanda pela promoção e salvaguarda da dignidade humana e também capacidade de suscitar alento e de implementar o supremo valor do bem comum.
O sentido de responsabilidade a que me refiro encerra também o seu significado mais estrito de «saber responder»: responder com prontidão quando sou solicitado; responder com alento a quem demonstra desmotivação; responder com ajuda a quem porventura dela necessita; responder com esperança a quem, eventualmente, a tenha perdido; responder sempre a todas as solicitações como quem serve e não como quem é servido.
Mas também sentido de responsabilidade porquanto me empenharei em respeitar esse bem tão precioso que é a separação entre Estado e Igreja. De facto, a laicidade é “um valor adquirido e reconhecido que faz parte do património de civilização já conseguido.”

Em segundo lugar, responderei à confiança de Vossas Excelências com lealdade cooperante. Somos herdeiros de uma história de colaboração que afunda as suas raízes nas fontes da própria civilização ocidental. Tanto na Antiga Grécia, como na Roma Antiga, assim como na tradição judaico-cristã era frequente e até natural que o Rei ou o General tivessem a colaboração do filósofo, do Profeta e do Sacerdote. Era uma presença que trazia humanização. Não por acaso, Aristóteles na sua obra Política faz depender a humanidade nos combates da presença de cultores de humanismo.
Excelências, pautarei a minha ação sob o signo da cooperação visando sempre o melhor para as Forças Armadas e Forças de Segurança, bem como para Portugal.

Finalmente, sinto-me impelido a corresponder ao apelo que me foi feito com espírito de honra. Tenho plena consciência do prestígio que envolve as nossas gloriosas Forças Armadas e Forças de Segurança. A história que ambas as forças construíram é garante do seu valor e potencial. Já não precisam de provar nada, embora o façam quotidianamente no serviço que prestam ao bem comum. Poder servir nelas como Capelão-Chefe da Igreja Católica é, deveras, uma honra e um privilégio.
Peço a Deus que me conceda a sabedoria e a graça de estar à altura da elevada estatura moral e patriótica das Forças Armadas e Forças de Segurança.

+Rui Valério