Como tinha sido anunciado, de 20 de Maio a 3 de Junho, o Ordinariato Militar para Portugal recebeu o Capelão Militar de Timor.Trata-se do P. Rui Filomeno de Jesus Gomes, o único sacerdote actualmente ao serviço da assistência religiosa às Forças Armadas da jovem e irmã Nação que é Timor Leste. Foi-lhe proporcionado um desenvolvido (e cansativo…) programa de contacto com a realidade do que se vai fazendo entre nós. O P. Rui Filomeno mostrou-se sempre muito interessado, muito desperto para uma realidade diferente da da sua terra e muito culto. Causou em todos, de facto, a melhor impressão.

A pedido do senhor Bispo, o Capelão de Timor fez uma espécie de relatório que se publica na íntegra, tal como foi recebido. Trata-se, de facto, de um documento fundamental para que, um dia, se faça a história deste nosso Ordinariato.

O MEU TESTEMUNHO

 Deu-se o início formal da Capelania nas Forças Armadas de Timor Leste no dia 16 de Janeiro de 2012 com a minha entrada no Quartel General das F-FDTL (Falintil – Forças da Defesa de Timor Leste) em Díli, depois de me ter submetido, com a recomendação do Bispo da Diocese de Baucau, Dom Basílio de Nascimento, ao recrutamento regular das F-FDTL no CFO (Curso de Formação de Oficiais) durante 6 meses.

Até a data,  sou o único sacerdote a dar acompanhamento espiritual em tempo pleno aos militares de Timor Leste  e seus familiares colocados em diversos lugares do território.

Ao convite do senhor Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança de Portugal em coordenação com o senhor Coronel Adido da Defesa na Embaixada de Timor Leste em Lisboa, fui autorizado pelo Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Timor com o conhecimento de Dom Basílio, actual Presidente da Conferência Episcopal de Timor Leste, para vir a Portugal fazer uma visita – estágio ao Ordinariato Castrense por duas semanas, e no fim atender ao seminário com o tema “a paz e o futuro da humanidade” e participar na Peregrinação Militar à Fátima organizados pela Capelania-môr no âmbito das Celebrações do Primeiro Centenário das Aparições da Virgem do Rosário aos santos pastorinhos.

Dia 20, 21, 22 e 23 de Maio de 2017

O meu estágio começou no âmbito da Assistência Religiosa da Marinha. O Capelão Adjunto da Marinha, o senhor Padre José Ilídio Fernandes da Costa acompanhou e guiou-me durante as celebrações do Dia de Marinha no dia 20  e 21 de Maio na Póvoa de Varzim e Vila do Conde; e  veio a coordenar também todo o programa das actividades do meu estágio até ao dia do meu regresso a Timor Leste.

No Centro da Assistência Religiosa da Marinha no Terreiro do Paço, foi-me dado a conhecer a estrutura do Ordinariato Castrense, o método da organização e coordenação em uso e a estratégia pastoral inclusiva que abraça todos os militares e familiares, independentemente dos seus credos.

O senhor Padre António dos Santos Oliveira acompanhou-me na viagem ao Norte de Portugal para a Celebração do Dia da Marinha e depois na Base Naval em Alfeite, o coração da Marinha portuguesa. Com ele visitei  a Escola da Tecnologia Naval e os navios onde entramos em contacto directo com os comandantes e os militares a bordo. Compartilhámos experiências pastorais,  a alegria de o capelão se sentir realizado na sua vocação específica, e a força da oração pessoal na vida do capelão.

O senhor Padre Licínio Luís Assunção da Silva, Capelão Fuzileiro, acompanhou-me à Capela do Alfeite, ao centro pastoral da catequese, ao Comando dos Fuzileiros e à Escola da Marinha. Lembrou-me a importância de criar o espírito de família no acompanhamento espiritual dos militares. De o capelão pôr-se ao nível de cada um dos militares: do mais novo ao mais antigo; do comandante ao praça; do instructor ao simples cadete. Só num clima de confiança, poderá o capelão ser efectivo agente pastoral para “a sua gente”. E que algumas vezes o capelão terá de mexer em pessoas concretas e com certa seriedade  e dureza que é para eles retomarem o caminho do bem. O senhor Padre Licínio confirmou que em certos casos e circunstâncias o capelão trabalha em coordenação com os psicólogos com a mesma atenção e preocupação de acompanharem e ajudar o militar, cada um com  métodos e ritmos próprios.

Dia 24 de Maio de 2017

No Centro da Assistência Religiosa da Guarda Nacional Republicana o senhor Padre Agostinho Rodrigues Freitas, Capelão Adjunto, inculcou a importância de criar o suporte jurídico da Assistência Religiosa nas Forças Armadas. Que a farda militar que o capelão usa, mostra que ele pertence à “família”.

Concelebrei a Eucaristia na histórica Capelinha de Nossa Senhora do Carmo no edificio do Comando da GNR com um grupo de fiéis participantes da Unidade.

O senhor Padre Agostinho levou-me à Unidade de Intervenção da GNR onde estava o senhor Padre António Rodrigues Borges da Silva presente nas actividades dos efectivos da Guarda Nacional Republicana onde o contacto directo com os comandantes e soldados no terreno era visível; muitos deles tinham cumprido missões de serviço em Timor Leste.

Dia 25 de Maio de 2017

 Na minha visita ao Centro da Assistência Religiosa da Polícia Segurança Pública o Capelão Adjunto senhor Padre João Luís Correia Fanha da Graça,  o único sacerdote civil a servir na Polícia Segurança Pública fez-me saber da vasta área em que ele, sòzinho, servia a Polícia Segurança Pública, do Comando Central até aos agentes todos no terreno. Ele testemunhou  que na condição onde o número do agente pastoral é mínimo, recorre-se à iniciativa  de coordenação para obter apoio de outros sacerdotes e leigos comprometidos. O senhor Padre Fanha levou-me a visitar a Igreja da Capelania  onde rezámos juntos o Ofício da Hora Intermédia.

Dia 26 de Maio de 2017

No Centro da Assistência Religiosa da Força Aérea o senhor Padre Joaquim Marques Martins, Capelão Adjunto, forneceu-me material abundante sobre  a preparação catequética para o Baptismo, Crisma e Matrimónio em uso na Capelania da Força Aérea. Fez-me perceber que a Força Aérea, sendo um ramo moderno de fundação  recente e com pequeno número de efectivos militares,  goza de uma proximidade e amizade muito grande entre os seus membros; quase todos se conhecem. Que o capelão é o melhor amigo entre amigos; compartilhou-me a experiência de ir ao encontro dos militares com problemas familiares muitas vezes causados por ausências frequentes e demoradas no cumprimento de missões de serviço.

Dia 29 de Maio de 2017

 O senhor Padre António José Marques Santiago, capelão da Academia Militar do Exército apresentou-me muito sistemàticamente o  papel do capelão em geral, e particularmente na Academia Militar, um lugar excelente (para o capelão)  tanto para a formação como para o  trabalho pastoral de acompanhamento pastoral – espiritual aos militares em geral e aos futuros comandantes. Partilhou-me documentação sobre estatutos da capelania, curso de capelães; descrição sobre a competência do capelão e critérios de desempenho, material de formação moral dos militares; guarda de honra nas celebrações religiosas solenes.

O senhor Padre Santiago propôs meios relevantes para a formação dos futuros capelães na Assistência Religiosa das Forças Armadas em Timor Leste.

Dia 30 de Maio de 2017

 No Centro da Assistência Religiosa do Exército no Casão Militar, O senhor Padre Jorge Manuel Marques de Matos, apresentou-me de forma detalhada  a história do Ordinariato Castrense; o funcionamento da Capelania Militar em Portugal desde os tempos passados até a presente data; isso deu-me  noção geral do desenvolvimento concreto da capelania na história: as vicissitudes, os meios e desafios a enfrentar, as soluções tomadas e caminhos abrir. O senhor Padre Matos descreveu-me  os critérios que usava para a preparação e celebrações dos Sacramentos da Iniciação; a maneira de organizar as celebrações; e salientou que a função do Capelão, mais do que para presidir as celebrações Litúrgicas, é para marcar a sua presença no meio dos militares, estar com eles, falar com eles, ouví-los e conviver com eles.

Com a ajuda do senhor Padre Matos obtive do senhor Comandante da banda e fanfarra do Exército partituras e gravações para apoiar a pequena fanfarra já existente nas Forças Armadas de Timor Leste a servir nas cerimónias militares e religiosas.

Acompanhei o senhor Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, Dom Manuel da Silva Rodrigues Linda, na Celebração dos Pupilos do Exército na Igreja de S. Domingos da Baixa (dia 28 de Maio), no Seminário sobre a Paz e o futuro da Humanidade na Academia da Amadora seguido depois com a Peregrinação (internacional) militar à Fátima (dia 31 de Maio, dia 1 e 2 de Junho) e no fim, na missa em Alfeite onde foram baptizados e crismados militares e seus familiares (dia 4 de Junho de 2017).

Ví que a presença do senhor Bispo era muito bem aceite no meio do seu rebanho, a pessoa do pastor das almas altamente respeitada e a mensagem transmitida bem atendida e ouvida tanto pelos comandantes generais como pelos soldados e familiares.  Percebí que a fé católica aínda encontra lugar muito privilegiado no meio militar no Ocidente.

31 de Maio, 1 e 2 de Junho de 2017

Coroou todo o meu estágio e estadia de visita em Portugal a Peregrinação Militar a Fátima que começou com o Seminário com o tema “a Paz e o Futuro da Humanidade, tudo organizado pela Capelania-Môr.

O senhor Bispo, os capelães de Portugal e seus colaboradores directos envolveram muitos, começando do Presidente da República, ministros, entidades civís, autoridades militares dos mais altos níveis até aos cadetes, e também pastores doutras denominações cristãs nessa actividade “religiosa mariana” que lembrou a todos a primazia de Deus na vida e os levaram a ficarem (mais) conscientes, juntamente com os militares, de serem  defensores da humanidade – o que deveriam todos ser – e a serem verdadeiros servidores da paz. O eco da mensagem que Nossa Senhora transmitiu cem anos atrás ao mundo atravéz dos santos pastorinhos foi realmente  muito sentido e a sua manifestação se via na grande e atenciosa audiência no Seminário na Academia Militar em Amadora e na participação activa de um significante número de militares de todos os postos e ramos e respectivos familiares na Peregrinação em Fátima.  A presença e participação também dos Bispos e Vigários Gerais doutras Nações nesse seminário e peregrinação militar veio internacionalizar esse evento religioso que se celebra anualmente.

Disse-me muito  a mensagem do senhor Bispo na abertura do Seminário que  “se exige ao capelão mais que a mera disponibilidade para a celebração da missa para o dia da unidade como para a veneração para os mortos e nos momentos de maior significado; e que a  actividade do capelão é tão diversificada como as múltiplas dimensões do humano do qual a Igreja se declara perita”.

Agora, dois meses depois do meu estágio,  aínda digo com a mesma força que a minha visita-estágio  junto do senhor Bispo e dos senhores padres Capelães em Portugal foi realmente muito enriquecedora para a minha pessoa e forneceu-me referências de valor desigual para levar à frente o desenvolvimento da Assistência Religiosa nas Forças Armadas de Timor Leste.

Em todos os Centros da Assistência Religiosa que visitei, fui acolhido como irmão entre irmãos; Os senhores Padres Capelães deram-me do melhor que eram e tinham; demostraram-se  verdadeiramente ser bons conhecedores das suas funções no seu específico apostolado, excelentes servidores e amigos dos seus irmãos e dos militares a quem foram enviados; realizei como cada um, com  talento e riqueza pessoal própria procuravam fazer do melhor para servir  A SUA GENTE.

Fui cordialmente apresentado aos mais altos dignatários e comandantes que foi possível encontrar os quais todos afirmaram quão benéfica a presença e a acção partoral dos capelães nos âmbitos onde lideram.

Todos os Centros da Assistência Religiosa e unidades militares tinham as suas igrejas e capelas, herança da fé do povo, da nação católica de séculos e que monumentam o trabalho dedicado  e incansável dos sacerdotes e capelães e o compromisso convicto dos católicos que serviram e servem nas Forças Armadas.

Se existem estruturas que até hoje marcam bem na vida, é porque houve quem trabalhou e apostou muito por elas e que ainda haja convictos continuadores que se dedicam a preservar e a continuar a dar vida.  Isso me diz que no contexto onde estou é urgente trabalhar, e a meu nível e condição procurar abrir caminhos, tomar iniciativas, criar condições,  e propôr que se construam estruturas físicas e legais, solicitar mais  recursos para o âmbito da Assistência Religiosa enquanto aínda é tempo e quando as circunstâncias cá em Timor ainda permitem e ainda são favoráveis –  quando o vento aínda está “a nosso favôr”.

Apoiado com mais conhecimento e material que conseguí obter,  na minha humilde condição e capacidade, pretendo  trabalhar mais na proposta já adiantada às competentes autoridades militares de legalizar e institucionalizar os Serviços da Assistência Religiosa tanto para as Forças Armadas  como nas Forças de Segurança cá em Timor Leste. E quando a entrada de mais dois ou três capelães para as Forças de Defeza  e Forças de  Segurança neste país  for aceite  solicitar-se-á no futuro próximo através de canais próprios apoio de recursos  do Exército Português e do Ordinariato Castrense de Portugal para  a formação inicial e contínua.

E tudo o que é bom e aplicável que se recolheu e se gravou, a seu próprio tempo será proposto e adaptado neste nosso contexto de Timor Leste.

Que do Ordinariato Castrense de Portugal, o senhor Bispo e os senhores Padres Capelães a quem muito sinceramente agradeço por me terem acolhido muito cordialmente  e me terem partilhado experiência e vida, continuem a acompanhar e a assistir o desenvolvimento da Capelania das Forças Armadas de Timor Leste em tudo o que fôr necessário para se estabelecer e melhor servir na assistência religiosa dos nossos militares.

Quartel General das F-FDTL, Fatuhada, Díli,  8  de Agosto de 2017

Ten. Pe. Rui Filomeno de Jesus Gomes

Capelão das F-FDTL

Piedade popular: procissão mariana

 

Celebração da Missa na capela que o Ordinariato de Portugal ajudará a reconstruir

 

Imposição das cinzas