Numa pequena cidade do interior, uma mulher que não se dava bem com a sua vizinha, criou o boato de que aquela senhora seria a responsável por uma série de furtos que estavam a acontecer. A notícia espalhou-se e não demorou muito para a acusada ser presa.

No entanto, algum tempo depois, a verdade foi revelada e descobriram que a vizinha era inocente. Aquela mulher, que era cristã e chefe de família, foi solta após muita humilhação e sofrimento. Decidiu então processar aquela que havia espalhado tantos boatos maldosos a seu respeito.

No dia do julgamento, o juiz achou justo que a autora dos boatos pagasse uma multa àquela que foi presa injustamente. Diante disso, a processada disse ao juiz:

Meritíssimo, os meus comentários não foram tão maldosos a ponto de eu ter que pagar tanto dinheiro. O que eu fiz foi um simples comentário e nada mais. Nós somos da mesma igreja e conhecemo-nos há anos. Foi tudo um mal-entendido e nada mais. Eu não posso ser condenada!

O juiz disse então:

Certo. Então, antes de eu dar a sentença, faça o seguinte: escreva todos os comentários que a senhora fez sobre sua vizinha num papel. Em seguida, rasgue o papel em pequenos pedacinhos e largue pelo caminho da sua casa. Amanhã, volte aqui para ouvir a decisão final.

A mulher obedeceu a ordem do juiz, mesmo não entendendo muito bem o que ele queria com aquilo. Ela escreveu tudo o que havia dito, rasgou o papel e largou pelo caminho. No dia seguinte, ela voltou ao tribunal.

Ao reiniciar o julgamento, o juiz disse:

Antes de dar a sua sentença, terá que cumprir uma missão: apanhar todos os pedaços de papel que ontem espalhou pela rua e trazer até mim.

A mulher, na mesma hora, reclamou:

Não posso, Meritíssimo. O vento espalhou os pedaços para todos os lados e eu já não sei onde eles foram parar.

O juiz respondeu:

Isso é tão impossível quanto impedir que um mau comentário destrua a honra de uma pessoa! Assim como a senhora nunca mais poderá recolher os pedaços de papel que largou pelo caminho, também nunca poderá desfazer o mal que fez àquela mulher. Se não se pode falar bem de alguém, é melhor que não se diga nada.

Sejamos senhores da nossa língua, para não sermos escravos das nossas palavras