6500 quilómetros separam Portugal da Republica Centro Africana, onde 180 militares do Regimento de Comandos do Exército Português vão passar o Natal

Foto: Forças Armadas Portuguesas

Lisboa, 16 dez 2020 (Ecclesia) – O capelão militar Ricardo Barbosa, que se encontra na República Centro Africana (RCA) onde irá passar o Natal junto com 180 militares, disse que naquele país africano, “onde há pobreza, Deus fala mais alto”.

“Os europeus vivem o Natal de luzes, enfeites e sabores; na RCA afirma-se «Jesus nasceu». Nós depuramos atitudes, sentimentos, pensamentos que, como europeus que têm tanto, ali sentimo-nos pequenos e compreendemos – lá nasce Jesus”, explicou à Agência ECCLESIA antes de embarcar na sua segunda missão fora do país.

Capelão militar desde 2017, o padre Ricardo Batista, natural de Paredes de Coura, era pároco antes de fazer a formação militar; depois de ter acompanhado em 2019, também na RCA, os paraquedistas, repete a experiência agora com o Regimento de Comandos do Exército Português.

Durante a missão de cinco semanas, o padre Ricardo Batista teve oportunidade de visitar escolas, “privar com párocos locais, militares responsáveis e visitas a aldeias mais distantes”.

A viver o Advento e a preparar a celebração do Natal na RCA, o capelão militar dá conta de um contexto muito diferente, mas onde se encontram as marcas cristãs deste tempo.

“Fiquei surpreso porque, na RCA, encontra-se os enfeires de Natal que cá encontramos. No campo militar faz-se a decoração de luzes, come-se o bacalhau e nas ruas, nos mercados locais, veem-se decorações de natal e presépios. Respira-se na cidade o brilho que temos cá”, recorda.

Entre os militares mais do que a ausência das tradições, “nota-se que vivem o tempo de Natal num sentimento da ausência da família”, separados que estão a cerca de 6500 quilómetros.

O sentido de camaradagem ajuda a ultrapassar o que será um sentimento geral, nota o capelão militar.

“No meio militar tratamo-nos por camaradas, e a palavra, na raiz indica aquele que partilha a cama, a camarata, o mesmo espaço. O camarada é o que partilha comigo a sua dimensão militar mas também a dimensão humana, os meus projetos, e tornam-se parceiros e companheiros da viagem, mesmo em distância da família de sangue”, explica.

Os meios digitais permitem hoje uma ligação à família, em Portugal: “conseguimos ver, expressar e ouvir a voz e isso minimiza a ausência”.

O padre Ricardo dá conta de que na noite de Natal, em missão, “não são poucos os militares que, durante a ceia ou no convívio, têm os telemóveis e através de vídeos chamadas partilham os momentos com a família”.

“Sou um privilegiado, eu nunca tive de dizer que lá estava. Eles é que faziam questão de, estando com as famílias em videochamadas, de me apresentar. Entramos no núcleo duro das pessoas. O sagrado dá-se nesta partilha de vida, em relações que prevalecem. Eles dão-me a amizade e eu posso dar-lhe um bocadinho de Deus”, recorda.

Numa ceia onde o bacalhau é o centro da refeição, há ainda a habitual troca de prendas entre militares.

“Cada um tem algo para partilhar: um postal, um objeto que fez de cerâmica ou madeira, tudo é improvisado. Sentimo-nos crianças porque temos de criar, nada está feito”, recorda.

Em 2019 os militares paraquedistas fizeram uma “grande cruz de madeira, com dois troncos” e ofereceram ao capelão.

“Vi presépios feitos com cascas de ovos, madeira, o mecânico fez com peças do motor… A criatividade é chamada e o espírito do Natal acontece”, finaliza.

LS (Ecclesia)