Despedimo-nos do ano 2022 marcados pela morte do Papa emérito Bento XVI que marcou a Igreja, a sociedade e cada um de nós. Reconhecemos que o seu legado, tão rico e intenso, quanto profundo e vasto de horizontes, nos suscita três palavras.
“Obrigado” é a primeira relativa à personalidade suave e ao mesmo tempo firme de um sucessor de Pedro que nos dava a conhecer o próprio modo da Igreja estar no mundo: dócil e discreta, ao jeito de quem serve, mas igualmente inabalável na firmeza da fé e no testemunho da verdade. Mas também à sua condição de Pontífice se dirige o nosso agradecimento pelas pontes que estabeleceu e cultivou. Desde logo entre a Fé e a Razão, fazendo emergir, como ninguém, a inelutável verdade de que, em ambas, o Logos é a essência, esse Logos acreditado, conhecido e expresso, mas que também confia absolutamente, é fonte de conhecimento e o Revelador do Pai, e, ainda, desse Logos que é a Vida, a Verdade e a Palavra. O nosso louvor a quem estabeleceu como prioritário a reafirmação do essencial cristão, tão bem latente nas suas perenes encíclicas sobre o amor, a esperança, a fé, para além de ter promovido os famosos anos: Paulino, sacerdotal, da Palavra… e, nesta linha da essencialidade, não podemos esquecer quando dizia que “no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e com isto a orientação decisiva». Obrigado!
“Sempre”, uma palavra típica do vocabulário do Papa Bento XVI, muito usada ao longo do seu Pontificado, desde logo quando, ainda na celebração das exéquias de Papa S. João Paulo II, afirmou que, como fazia a partir da janela da Praça de São Pedro, agora continuaria a abençoar-nos para sempre, a partir das janelas do céu. Era o sempre que exprime eternidade; o sempre inaugurado por Cristo, vencedor do efémero, e dimensão do absoluto. O sempre do amor, da vida em Cristo, da esperança e, como tal, podemos até dizer que é a forma temporal para dizer a força da vida eterna, ou mesmo uma expressão que encarna no tempo a dimensão eterna. Para sempre permanecerá connosco.
“Servir” foi a palavra com mais força pronunciada no minidiscurso inaugural, no próprio dia da eleição. “Um humilde servo da vinha do Senhor”, identificava-se ele e, realmente, o seu pontificado foi, aspeto particularmente sensível para os Militares e para os Elementos das Forças de Segurança, um heroico serviço à Igreja e à humanidade. Sobretudo porque com a sua sabedoria, o seu afeto, a sua inteligência, a sua fé, ele oferecia a própria pessoa de Jesus Cristo. Partilho o que constatei das vezes que tive a graça e o privilégio de ter assistido a algumas conferências do Cardeal Joseph Ratzinger sobre temáticas teológicas, inclusivamente até num famoso debate com intelectuais, e era impressionante que Ratzinger mais do que oferecer ideias, argumentos, provas, perspetivas teologicamente sólidas e sustentáveis oferecia Jesus Cristo. Estava particularmente interessado em partilhar conhecimento, mas sobretudo em preencher o nosso coração com a pessoas de Jesus Cristo. Eis o seu verdeiro serviço: deu a própria vida, mas deu-nos sobretudo a Fonte da Vida que é Jesus Cristo.
O Ordinariato castrense para Portugal, com as Forças Armadas e as Forças de Segurança estão em comunhão com o emérito Papa Bento XVI, agora já a tomar parte na gloriosa condição da bem-aventurança eterna.
+ Rui Valério, Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança