Padre Ricardo Barbosa, do Ordinariato Castrense, sublinha figura «inspiradora» que vai para lá da tradição das castanhas

Lisboa, 10 nov 2023 (Ecclesia) – A Igreja Católica evoca anualmente, a 11 de novembro, a figura de São Martinho (316-397), bispo de Tours (França) e antigo militar, famoso pela atenção aos pobres, simbolizada na imagem da capa cortada ao meio, para abrigar um pedinte.

São Martinho nasceu no seio de uma família pagã na Panónia, atual Hungria, e foi orientado pelo pai para a carreira militar, tendo decidido converter-se ao Cristianismo, ainda adolescente.

Em Portugal, é célebre a expressão ‘verão de São Martinho’, aplicada a três dias de sol e calor no meio do outono, tidos como recompensa ao então soldado romano por ter repartido o seu agasalho com um pobre.

A esta data associa-se também a celebração do Magusto, uma festa popular em Portugal.

“Quando era ainda jovem soldado [São Martinho], encontrou na estrada um pobre entorpecido e trémulo de frio. Pegou no seu manto e, cortando-o em dois com a espada, deu metade àquele homem. Nessa noite apareceu-lhe Jesus em sonho, sorridente, envolvido naquele mesmo manto”, relatou o Papa Bento XVI, na catequese que dedicou a este santo, em 2007, apresentando-o como exemplo de “caridade fraterna”.

O padre Ricardo Barbosa, da Diocese das Forças Armadas e de Segurança, destaca à Agência ECCLESIA o exemplo deste antigo soldado romano, uma figura “muito inspiradora”

“Vamos olhar para São Martinho, não apenas para as castanhas, mas sobretudo para aquilo que é a partilha. Quando o outro necessita de mim, que eu esteja disponível para o ajudar”, apelou.

O sacerdote do Ordinariato Castrense sublinhan que a pobreza “tem muitas, muitas caras”, tanto do ponto de vista material como espiritual.

Capelão na Academia Militar, o padre Ricardo Barbosa assinala que nenhum militar quer “fazer a guerra”, mas procura “manter a paz, para proteger os seus cidadãos”.

São Martinho surge como exemplo de “militar da paz”, apontando a uma cultura nova, que “tem de ser construída não pela ameaça, mas pelo diálogo, pela partilha, pela proximidade”.

“Os nossos militares portugueses são exemplo concreto disso, diariamente, não na mediatização da sua ação, mas em tudo aquilo que fazem e que, às vezes, é desconhecido da maior parte das pessoas”, acrescenta, em entrevista que é emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).

Tendo-se despedido do serviço militar, Martinho foi até Poitiers, na França, para junto de santo Hilário, bispo que o ordenou diácono e padre; o santo escolheu a vida monástica e deu origem, com alguns discípulos, ao mais antigo mosteiro conhecido na Europa, em Ligugé.

Cerca de dez anos mais tarde, os cristãos de Tours aclamaram Martinho como seu bispo, cargo que o santo ocupou até à sua morte.

HM/OC