Mensagem do Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, para um Natal de misericórdia, dignidade e fraternidade.
Mensagem de Advento
Para um natal de misericórdia, dignidade e fraternidade
Caríssimos homens e mulheres que servis as Forças Armadas e as Forças de Segurança, a pergunta é antiga, mas vale a pena ser continuamente relembrada: que é que o nascimento de Cristo trouxe de novo ao mundo?
Sim, já tivemos filósofos de imensa sabedoria, políticos que edificaram impérios, militares que se imortalizaram, artistas que nos legaram criações intemporais. E Jesus que trouxe de especial? Trouxe a compreensão da imensa dignidade humana e a certeza de que podemos viver neste mundo como irmãos.
De facto, a Bíblia, logo nas suas primeiras páginas, apresenta o homem como a única “imagem e semelhança” de Deus existente à face da terra. Reconhece-lhe, pois, um valor de absoluta superioridade. Mas só palavras soam a pouco. Por isso, a dado momento da história, Deus chega ao ponto de tomar carne humana, de encarnar, de fazer-Se Homem no meio dos homens. É o Natal. A partir daí, ficamos a entender bem a imensa dignidade de que somos portadores e que constitui o fundamento dos direitos humanos universais, inalienáveis e invioláveis: Deus não tem pejo de assumir como Sua a nossa natureza.
Sendo todos nós portadores desta natureza, somos, efetivamente, irmãos em Cristo. Então, este mundo não pode tender a outra coisa que não seja a uma fraternidade universal. Sim, está inscrito na sua razão de ser, no seu plano constitutivo: a história é o processo –longo, custoso e demorado – da edificação da fraternidade. Mesmo que alguns factos procurem demonstrar o contrário. É esta, efetivamente, a «pedra de tropeço» de tantos homens e mulheres do nosso mundo: não admitirem a dignidade de cada pessoa e, consequentemente, executarem ações abomináveis contra a fraternidade universal. A situação atual confirma isso sobejamente.
Mas vós, caros militares, militarizados e polícias, no desempenho da vossa ação de defesa e segurança, assumis institucionalmente a tarefa de fazer com que a nossa dignidade constituinte se cumpra no exercício dos direitos humanos e se lancem os fundamentos do respeito e da boa convivência nesta casa familiar comum que é o nosso mundo. Parabéns, pois, pela vossa nobre ação, altamente meritória!
Desejo-vos um bom Natal e um novo ano tranquilo e feliz. A vós que vos encontrais no país e aos que cumprem estas funções em missões de paz no estrangeiro. Mas a todos peço para não vos esquecerdes que é na fé e no concreto das vossas famílias, na ajuda aos camaradas mais necessitados e no círculo próximo dos amigos que sois chamados a concretizar este reconhecimento da dignidade humana. De mais a mais, neste tempo que o Papa Francisco definiu como “Ano da Misericórdia”. Sem isso, o nascimento de Jesus passaria despercebido, como sugere o conhecido poema de Vitorino Nemésio, que me permito transcrever:
“Hoje é Natal.
Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo”.
Que a ternura, a misericórdia e o carinho do Deus-Menino estejam convosco.
O vosso bispo e amigo,
Manuel Linda