ÀS FORÇAS ARMADAS E FORÇAS DE SEGURANÇA ENVOLVIDAS NO COMBATE AOS INCÊNDIOS

MENSAGEM DO BISPO DAS FORÇAS ARMADAS E DAS FORÇAS DE SEGURANÇA

«SERVIR PARA FAZER RENASCER»

Foto da Revista Voz do Campo

Caros Militares da Marinha, do Exército, da Força Aérea, Caros Militares da Guarda Nacional Republicana, Caros Polícias da Polícia de Segurança Pública

1. Em Portugal, o verão tornou-se sinónimo de incêndios.

Um flagelo que se tem traduzido em destruição, desolação, morte, desespero, abandono, desertificação..Quando a floresta arde, também a alma dos homens se queima. Uma paisagem reduzida a cinzas é o retrato do abismo de desespero escavado na interioridade da pessoa que tudo perdeu ou que apenas presenciou o deflagrar das chamas e assistiu à destruição da vida, seja flora seja fauna. Um incêndio representa sempre mais do que aquilo que aparenta, pois a sua ação destrói e consome tudo. Tanto fora como dentro da gente. E quem já passou pela horrível experiência de perder os seus haveres — casas, campos, bens, pinhais, vinhas, olivais… — sabe que a vida deixou de ser o que era e jamais voltará a ser a mesma. Nem tão pouco o próprio! Alguns, no espaço de poucos dias, envelhecem anos e os seus rostos tornam-se esculturas enrugadas.

2.Os incêndios não devastam só a fadiga de muitos anos; por vezes, destroem até os sonhos de uma vida inteira, obrigam a um confinamento sem via de retorno, sem esperança, sem horizontes, sem força. Fica tudo reduzido a cinzas, num ápice, quer se trate de bens materiais, quer se trate de bens imateriais ou espirituais. Sem esquecer que, muitas vezes, demasiadas vezes, também a base de sustentação de inteiras famílias é exterminada pela vertigem das chamas. A pobreza, a incerteza do amanhã, o desemprego, tudo escava sulcos de desconfiança nas almas. Trata-se, na verdade, de uma tragédia que mina diretamente a essência do ser humano.

3. Assim, tudo quanto se faça no âmbito do combate aos incêndios tem sempre uma relevância humanista. E como o destino das florestas, dos campos e de tudo o mais que possa ser dizimado pelas chamas tem ligações profundas com as pessoas, as quais se ressentem com a sua destruição, também o que for feito em prol das populações tem o efeito de um recomeço. É a fonte da esperança. E as Forças Armadas e Forças de Segurança, com a sua presença e ação no terreno, têm sido obreiras de renascimentos e arautos dessa esperança.

4. Por isso, caros Militares e Elementos das Forças de Segurança, com esta mensagem, tão breve quanto sentida, venho agradecer a vossa dedicação em defender Portugal. As palavras, embora insuficientes, exprimem a nossa gratidão e o nosso apreço, num ato de sincera retribuição, pelo vosso zelo em proteger o nosso país. A sentida solidariedade que tem ecoado em todo o lado testemunha a mais sincera admiração para convosco, para com a vossa missão e a vossa entrega. E a mesma admiração estende-se também às vossas famílias que ficam privadas da vossa presença quotidiana e preocupadas com o que vos pode vir a acontecer se se verificarem os cenários mais catastróficos. A forma exemplar como tendes combatido este flagelo, independentemente da fase de atuação, a dedicação demonstrada, que é reveladora de uma inquestionável abnegação, a coragem na luta com um tão indomável inimigo revelam a vossa prontidão para pôr em risco a própria vida. Quer seja na prevenção e vigilância, quer aconteça no apoio, quer se dê no auxílio logístico, quer suceda no combate direto às chamas, estais a atuar na senda do juramento de “defender a Pátria e estar sempre pronto a lutar, mesmo com o sacrifício da própria vida.”

5. Congratulo-me convosco e podeis contar com o reconhecimento de inteiras populações que, dentro do silêncio com que miram as paisagens e a vida, têm bem presente no coração um obrigado muito sentido às Forças Armadas e às Forças de Segurança. A vossa atuação cria nas pessoas um profundo sentimento de segurança. E sobre esse sentimento, as pessoas constroem uma confiança sólida e uma esperança elevada. E vós, no meio da desolação, sóis um oásis para o renascimento. Agradeço-vos também essa capacidade, já revelada noutras ocasiões, de dar a Portugal esses dois pilares tão preciosos: a confiança e a esperança. Existindo estes, existe o presente e, sobretudo, existe vontade de construir o futuro.

6. Por isso, Deus Nosso Pai, que enviou o seu Filho à terra para nos salvar, vos ilumine para que, através do vosso exemplo e do vosso árduo trabalho, com o auxílio de Nossa Senhora, o flagelo do incêndio nunca se revele uma certidão de óbito para ninguém, mas, com a vossa presença e ação, seja sempre ocasião para se recomeçar a viver. Também vos quero assegurar que todos os dias colocarei sobre o Altar da Eucaristia a vida de cada um de vós, para que o Senhor da Paz, com Sua Mãe, a Virgem Santíssima, zele por vós, vos acompanhe e vos proteja.

Com os mais cordiais cumprimentos, sempre convosco e para vós

+ Rui Manuel de Sousa Valério

Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança

Lisboa, 31 de julho de 2020