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De dois em dois anos, cerca de uma dezena de bispos representantes do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e outros dez delegados do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (SECAM), reúnem-se para estudo de problemáticas comuns.

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Este ano, o encontro realizou-se nos arredores de Maputo e o tema foi o da família, atendendo ao Sínodo dos Bispos a decorrer no próximo mês de Outubro. Um dos dos escolhidos para representar a Europa foi D. Manuel Linda, Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança.

De seguida, apresenta-se o comunicado final.

  1. Introdução: Nós bispos da Europa e África, delegadas dos Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar, reunidos em Mumemo, Moçambique, com um casal, alguns religiosos e leigos de 29 a 31 de Maio de 2015 (o quarto Seminário neste percurso de comunhão, solidariedade e colaboração que começou em Roma em 2004), tratámos do tema: a Alegria da Família.

Tivemos oportunidade de escutar as alegrias e os desafios da família com testemunhos de famílias e pastores; reflectimos, rezamos e tentamos discernir o que o Espírito Santo diz hoje aos pastores da Igreja na África e na Europa, como preparação para a 14ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos cujo tema é a “A Vocação e a Missão da Família na Igreja e no Mundo contemporâneo”.

Ao concluir este Seminário, neste Domingo, da Solenidade da Santíssima Trindade, festa da Unidade e da Comunhão da Família Divina, diante das alegrias, desafios e até mesmo crises que os casais e as famílias de hoje enfrentam, gostaríamos de partilhar esta mensagem de alegria e de esperança com todos os filhos e filhas da Igreja em África e na Europa e em todo o mundo e também com todos os homens e mulheres de boa vontade.

  1. Alegrias e desafios da família: profundamente agradecidos, lembramos as nossas próprias famílias, o nosso pai e a nossa mãe, os nossos irmãos, avós e outros parentes, o nosso lar onde experimentámos o amor e recebemos a educação nos valores, e onde fomos iniciados na fé e na oração que ainda hoje nos sustenta como bispos.

É claro que nem sempre tudo era perfeito. Alguns de nós viemos também de famílias com dificuldades. Contudo, todos nós celebramos o dom de Deus que é a família humana com um pai, uma mãe e filhos, célula básica e natural da sociedade que é indispensável para cada pessoa.

Também hoje vemos muitas famílias felizes. Lugares onde os esposos se amam com um amor que cresce à medida que os anos de casamento passam. Vemos casas com crianças que se sentem amadas; onde a fé em Deus e os valores da família estão vivos e são transmitidos; onde existe uma incondicional aceitação uns dos outros e mútua ajuda, onde há lugar para erros, correcção fraterna e espaço para o perdão e a reconciliação; onde cada criança é bem vinda sejam quais forem os seus limites ou deficiências. Nós prezamos estas famílias e agradecemos a Deus por elas.

Ao mesmo tempo, como pastores, estamos perto dos que passam por crises matrimoniais. Sofremos muito pelas famílias desfeitas; pelas famílias pobres que vivem com grande dificuldade o seu dia-a-dia; somos tocados pelas pessoas que sofrem pela doença e não se conseguem curar por dificuldades económicas ou por falta de tratamento adequado. Sabemos que muitas pessoas sofrem por estarem presas ao abuso de substâncias, e são causa de grande sofrimento nas suas famílias; sabemos que há pessoas que trabalham longe das suas famílias em condições de quase escravidão; temos presente que muitas famílias são ameaçadas e sofrem pelo ódio e pelas guerras, pela migração forçada e pelo tráfico humano. Estamos preocupados com algumas influências negativas que surgem pelos Meios de Comunicação Social.

Os nossos corações ficam desfeitos quando sabemos de crianças órfãs, abusadas, sem educação, muitas das quais vivem sozinhas nas ruas, e de adolescentes levados para a violência, o crime, a prostituição, etc. Escutamos tantas mães, que desesperadamente não vêem futuro para os seus filhos ainda não nascidos e por isso recorrem ao aborto. Quanta dor!

Mas com alegria, vemos que o Espírito Santo está em acção em tantas famílias que vivem uma vida de doação e sacrifício, que estão generosamente abertas à vida e se doam incondicionalmente aos outros membros da família e desta forma encontram uma plenitude de vida. Eis o que Jesus diz a estas pessoas: “… aquele que perder a sua vida por causa de Mim, há-de salvá-la…” (cf. Mt 10, 38-39) e ainda “Ninguém tem um amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13).

Conhecemos tantas iniciativas de apoio à família nas suas canseiras e circunstâncias diárias. Na África de modo especial, os laços entre os membros da família são muito fortes. Admiramos a vitalidade de vida de comunidades de fé e a presença de tantos jovens. Na Europa alegramo-nos com tantos novos movimentos que surgiram nos últimos anos e que explicitamente abraçam a vida da família e trazem como que uma nova primavera e um novo fulgor a esta maravilhosa criação de Deus que é a família humana. Não podemos não nos alegrar com estes sinais positivos.

  1. Vocação, espiritualidade e missão da família: África é considerada pelos cientistas como o berço da humanidade. É aqui que ousamos desafiar o estado actual das famílias e procurar soluções. Encorajamos as famílias a rezarem habitualmente juntas, pois este é o coração da vida do amor e da fé a que todos os membros da família são chamados. Como costumava dizer a Beata Madre Teresa de Calcutá, “a família que reza junta, permanece unida”, exortamos as famílias e os membros das famílias a rezarem especialmente o Terço. A participação habitual na Eucaristia também traz paz ao coração e à mente e fortalece as famílias. Porque todos somos chamados à santidade: que cada membro da família anseie a santidade. Grupos de oração de mães e de pais pelos seus filhos, por exemplo, podem concretizar a necessidade de apoio mútuo.

Educação nos valores humanos e nas virtudes é também indispensável, e é uma grave responsabilidade dos pais. A comunicação sincera entre pais e filhos, para conseguir enfrentar os desafios da nossa cultura e para formar os filhos é hoje, mais do que nunca, necessária. É, por isso, que queremos aproveitar esta ocasião para apelar aos líderes políticos e às autoridades civis a garantirem que as famílias possam ter tudo o que precisam para cumprirem a sua responsabilidade educativa para com os filhos para o maior bem da sociedade. As crianças e os jovens de hoje precisam de ajuda para conseguirem discernir e para escolherem o que é justo e virtuoso e evitar o mal.

É assim que a família cristã assume a sua vocação missionaria, de ser um lugar de acolhimento de todos os que estão tristes e são carenciados; um espaço seguro para o diálogo, onde as culturas se encontram e são purificadas pelo Evangelho; o lugar onde as crianças nascem e se desenvolvem, elas que serão os políticos, artistas, engenheiros, doutores, artesões, encarregados de serviços públicos, os pais e mães, sacerdotes e religiosos do futuro, todos encorajados e acompanhados na sua busca e no seu caminho da vocação que Deus lhes dá.

  1. A nossa missão como bispos: Em comunhão com o Papa Francisco, como pastores, nós assumimos o compromisso de estar mais presente junto de todas as famílias, seja qual for a sua situação. Nós levamos a elas Jesus Cristo, o Emanuel (Deus connosco), que nunca cessa de dirigir um olhar de misericórdia e de gratuidade a cada pessoa como filha de Deus, seja em que situação se encontrar. É Ele que nos liberta do pecado. Ele, o Verbo de Deus, nascido da Virgem Maria, continuará sempre a ajudar as famílias a crescerem no amor e na fé; Ele reforçará sempre os laços entre o marido e a mulher, entre os filhos e os seus pais. A Sua presença consolará os que estão cansados e sós, doentes e abandonados (cf. Mt 11,28). É Ele que dá sentido até no sofrimento seja em que estado nos encontramos.

Nós suplicamos que o Espírito Santo guie os pensamentos e as deliberações dos Padres dos próximo Sínodo. Possa a imagem da família irradiar como o sol que, mesmo quando fica escondido pelas nuvens, continua a aquecer os corações e as vidas de cada ser humano! Possa o ideal da família nunca ficar totalmente eclipsado pelas nossas fraquezas e pecados.

Como bispos, vamos redobrar os nossos esforços para deixar esta luz de Cristo brilhar, aumentando o nosso cuidado pastoral para com as famílias, preparando os jovens para o Sacramento do Matrimónio, acompanhando as famílias com e sem filhos, ajudando os idosos e os divorciados seja em que circunstância se encontrem.

  1. Exortação conclusiva: Gostaríamos de concluir esta mensagem com estas palavras encorajadoras de São Paulo aos Filipenses (4, 4-9): “Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos! Que a vossa bondade seja conhecida por todos. O Senhor está próximo. Por nada vos deixeis inquietar; pelo contrário: em tudo, pela oração e pela prece, apresentai os vossos pedidos a Deus em acções de graças. Então, a paz de Deus, que ultrapassa toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. De resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é respeitável, tudo o que possa ser virtude e mereça louvor, tende isso em mente. E o que aprendestes e recebestes, ouvistes de mim e vistes em mim, ponde isso em prática. Então, o Deus da paz estará convosco.

Possa a Sagrada Família de Jesus, Maria e José ser o modelo de todas as famílias! Possa Nossa Senhora, Rainha das famílias ser a constante intercessora das famílias!

 

Mumemo, Moçambique, Domingo, 31 de Maio 2015

Festa da Santíssima Trindade