1. A força da Páscoa reside na grandeza que dela resulta para o ser humano. Todos são abençoados, com a certeza de que Cristo deu a sua vida por cada um de nós, o que prova o imenso valor que representamos para Deus. Somos tão importantes, que foi por nós que Jesus morreu. Na sua morte e ressurreição, atingimos a fonte de uma nova esperança para a humanidade e para a sua história, atribuindo-lhe assim uma incomensurável capacidade de ser construtora de vida e de paz. Só quem vislumbra a luz da plenitude, no horizonte da existência, está iluminado para criar novos mundos e novos tempos.
2. O caminho de Emaús onde Cristo Ressuscitado se encontrou com dois dos seus discípulos que, embora vivos, estavam como que mortos e até sepultados na sua angústia, frustração e desilusão, revela-nos a mudança, que a força do Ressuscitado opera na vida de quem se cruza com Ele (cf Lc 24, 13-35). Nesta partilha, visualizo, sobretudo, os gestos de ressurreição feitos na página da vida desses seguidores de Jesus, e que os conduziu à ressurreição deles próprios.
Aos Militares das Forças Armadas e da Guarda Nacional Republicana, à Polícia de Segurança Pública e a todas as mulheres e homens de boa vontade, que combateis pela paz e pela segurança, tanto em território nacional, como internacional, confio esta singela mensagem de luz e de esperança.
3. Cristo apareceu aos discípulos porque não quis deixá-los para trás. Não desistiu deles, como não desiste nunca de ninguém. A parábola de vida de cada um é prova, ela mesma, que só estamos na posição em que hoje estamos, e só somos quem somos, porque Cristo nunca nos deixou para trás, nem abdicou de nós, mas vem, continuamente, ao nosso encontro.
Em segundo lugar, oferece-se como relevante o caminho do sacrifício que foi percorrido por estes caminhantes, “caminho das pedras” feito sob o tropeço da desilusão, tristeza e dor. Contudo, é este o caminho da ressurreição. Também Cristo, como canta um antigo hino patrístico, ressuscitou porque caiu na morte, ergueu-se no triunfo da vida nova porque desceu ao sepulcro. Eis aqui, a razão de ser da cruz, do sofrimento e da morte: são caminhos para a ressurreição, para alcançar a plenitude da vida. Afinal, a vida é um caminho cuja meta é aquele abrir-se para a luz da eternidade no esplendor da ressurreição com Cristo.
Que ninguém desfaleça nas quedas que a vida, por vezes, nos oferece; continue em frente! Não somos feitos para parar nas dificuldades – é certo que passamos por elas, mas não é para aí ficar – somos feitos para, em Cristo, alcançar a alegria da Ressurreição.
Assim, emerge naturalmente o terceiro gesto, para nos comunicar a ressurreição que corresponde à dádiva que Cristo nos faz de si mesmo. «Entrou para ficar com eles. E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no» (Lc 24, 29-31). Partilhar o que somos, como Cristo se partilhou no Pão partido, corresponde ao supremo e invisível instante de ser ressuscitado e de ressuscitar alguém. No dom de Si ao Pai, Cristo Senhor Ressuscitou, e pela Sua Ressurreição, todos ressuscitaremos. No amor de cada um de nós pelos outros participaremos da vida nova do Senhor, e muitos serão redimidos para a liberdade.
Só na dádiva de nós próprios, ressuscitaremos.
Uma Santa e Feliz Páscoa
+ Rui Manuel Sousa Valério, Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança