Caros fiéis que servis a sociedade nas Forças Armadas e nas Forças de Segurança,
na homilia da missa em que o Condestável, D. Nuno Álvares Pereira, foi canonizado, a 26 de Abril de 2009, o Papa Bento XVI afirmou: «Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar, nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de caráter militar e bélico, é possível atuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus».
Sim, é possível ser militar e santo, polícia e santo! E, se é possível, temos de o ser! A santidade não é um opcional: constitui a necessária direcção, o único ponto de chegada para quem tem a graça de associar humanidade e fé. Sem complexos. Mas com a nobreza de carácter que a condição militar ou policial favorece e motiva.
É para aqui que a pedagogia da Igreja nos deseja conduzir com a vivência deste tempo forte do calendário da fé a que chamamos «quaresma». Para mais, quaresma do Ano Jubilar da Misericórdia. Mas, objectivamente, como ser santo e, ao mesmo tempo, ser militar ou polícia?
Voltemos a São Nuno Alvares Pereira. Bento XVI falava na real possibilidade de “atuar e realizar os valores e princípios da vida cristã”. Quais, em concreto? Apresento três, que distinguem o nosso «herói e santo»: a Eucaristia, a devoção a Nossa Senhora e a caridade cristã.
No tempo de São Nuno, não se podia comungar todos os dias. E há crónicas que dizem que ele esperava pelo dia da comunhão como se anseia pelo que mais se deseja: sem lhe sair da mente e do coração. Assim deveríamos ser nós: homens e mulheres de Missa dominical –sempre!- e de comunhão. Para favorecer este acesso à comunhão, na nossa Sé, na igreja da Memória, às quintas-feiras, haverá um especial serviço de confissões. Os que vivem fora de Lisboa, «obriguem» os capelães a atender de confissão, coisa que eles farão com todo o gosto. Lembro que a confissão e a comunhão são dois sacramentos indispensáveis para se obter as indulgências do Jubileu da Misericórdia.
Quanto à devoção do Condestável a Nossa Senhora, não é preciso dizer muito. Sabemos bem que mandou erguer várias igrejas e conventos em honra da Mãe de Deus. Pensemos, apenas, no mosteiro da Batalha e no convento do Carmo, em Lisboa, actual sede do Comando-Geral da Guarda Nacional Republicana, ambos edificados à sua custa. Mas o mais significativo é que ele mesmo se fez frade carmelita numa ordem eminentemente mariana. Pois, hoje como no passado, Nossa Senhora continua a ser o farol seguro para não nos perdermos nos caminhos da mundanidade, do materialismo e da violência, mas atingirmos o porto da salvação que é Jesus Cristo.
Para a mente popular, porventura, o que chama mais a atenção em São Nuno é a sua caridade: sendo ele o homem mais rico do reino –bem mais rico do que o próprio rei- de tudo se desfez para passar a mendigar, não para si, mas para os seus pobres. E, para eles, criou algo que funcionava como espécie de «cantina social» da época: o “Caldeirão”, que retira o nome da enorme caçarola onde se confeccionava uma comida quente. A sensibilidade às problemáticas sociais e a consequente caridade são, de facto, a «imagem de marca» da nossa fé. É algo que nos deve identificar sempre. Mas convido-vos, especialmente, a serdes generosos na costumada partilha quaresmal que se destina, neste ano, a grandes pobrezas: metade irá para situações de maior carência de pessoas ou famílias do meio militar ou policial e outra metade chegará às Caritas da Síria e do Líbano, que estão a braços com milhões de refugiados, aos quais falta tudo: desde o pão até um cobertor para se agasalhar; desde um comprimido para as dores, até um lápis escolar.
Caros diocesanos, o nosso povo diz que não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. Pois bem: é agora o momento certo de nos decidirmos por Deus e pelo seu Reino, é o tempo de experimentarmos a sua misericórdia, é a altura de levarmos a sério mais este «mimo» da Igreja que é o Ano Jubilar. E é altura de imitarmos mais a D. Nuno Álvares Pereira. Vamos a isso?
O vosso irmão e amigo,
+ Manuel Linda