Homilia do Ordinário Castrense para Portugal, na Igreja da Memória, concelebrada com todos os capelãesno activo.

Missa Crismal 2017

A certeza de que o Reino cresce

 

Caros Sacerdotes e Diáconos,

reunimo-nos aqui, na nossa catedral, com o mesmo espírito com o qual os Apóstolos se juntaram ao Mestre no Cenáculo: a certeza de que a instauração do Reino de Deus também passava por aí, pelo pão compartilhado e pelo sacerdócio assumido. E também nós, como seguidores de Cristo, o queremos fazer a partir desse vínculo único e indelével que é o de deixar continuar em nós o seu sacerdócio como o grande motor da salvação. Sede bem-vindos.

Na simplicidade desta reunião familiar, gostava de vos referir alguns aspectos que nos devem alegrar e projectar para uma actividade pastoral desenvolvida cada vez com mais alegria, serenidade e sentido de participação no ministério da redenção de Cristo. Faço-o de maneira muito sintética.

Desde a última Páscoa, aumentamos em número e, certamente, também em dinamismo: três novos capelães ingressaram nos nossos quadros. É verdade que, entretanto, faleceu o nosso querido P. Assunção. Mesmo assim, o saldo é positivo. E é de notar que crescemos em contra-ciclo com a instituição militar, a braços com fortes carências de recursos humanos.

Como tantas vezes o tenho referido, noto que as portas se nos abrem e a consideração que nos devotam é elevada. Disso mesmo dão testemunho as múltiplas condecorações, louvores, referências elogiosas, gestos de carinho de toda a ordem, etc. Mas, fundamentalmente, refiro dois aspectos: os pedidos que me fazem de capelães, sinal de apreço, e as formas laudatórias como se referem a vós. Isso é sinal da vossa dedicação. Dou-vos os parabéns e agradeço-a.

É, também, motivo de alegria a consolidação pastoral que vamos realizando. Assim, não perdemos nada do muito que já vinha de trás -pastoral da família, peregrinações, Centurião, página Web, Conselhos, participação laical, Coordenadores dos sectores ou pastoral especializada, etc.-, mas até recuperamos alguns que não se realizavam há anos –peregrinação a Fátima a pé, integração dos novos alunos dos Estabelecimentos de Ensino Superior Militar e Policial, relevo dado à celebração e encontro nas primeiras quintas feiras de cada mês, participação dos Diáconos nas nossa dinâmica, sempre que tal é possível, etc. Além disso, até investimos em novidade e parece que fomos apreciados. Refiro-me, por exemplo, à I Peregrinação à Terra Santa, ao alargamento, ao Norte, de celebrações que só se faziam em Lisboa e, fundamentalmente, ao Seminário “Paz e futuro da humanidade” e à internacionalização da nossa Peregrinação a Fátima, dois aspectos que antevejo com muita esperança. Posso, pois, afirmar que, graças a todos nós, não se perdeu nenhuma dimensão pastoral tradicional, recuperaram-se algumas e criaram-se outras.

Continuaremos a solidificar as estruturas para fazer do Ordinariato uma verdadeira Diocese: já possuímos todos os Conselhos previstos no direito e creio que vão funcionando com regularidade. O mais recente é o Económico, criado em razão da transparência e da corresponsabilidade. Ele permitir-nos-á apresentar contas no final deste ano.

Muito mais haveria a referir, juntamente com lacunas, que também as sentimos. Mas, mais importante que ficar a chorar sobre o leite derramado, é pormo-nos a questão: e para o futuro?

O futuro há-de ser à medida da graça de Deus e do que nós formos capazes de semear, em perfeita sintonia de esforços, pois somos como que membros de um mesmo corpo. O grande objectivo é aquele que tantas vezes refiro: sermos cada vez mais dignos da consideração que nos devotam. E isso passa por atitudes tão específicas como simplicidade, empatia e simpatia, proximidade afectiva e efectiva, misericórdia perante as situações difíceis, etc. E também passa muito pela alegria: quero ver-vos alegres! A verdadeira alegria é hoje como que certeza de unidade interior de cada um e expressão visível da fé que nos anima. Além disso, não esqueçais que sois colaboradores do Comando, mas, especialmente, para os mais pobres dos pobres.

Ora, tudo isto que parece muito simples, arranca da própria essência do nosso ministério. Ministério que não se entende por si, mas é oferta graciosa e generosa de Jesus Cristo que nos associou intimamente à sua obra de salvação. Nesta linha, permiti que apenas enuncie algumas atitudes que se reclamam de quem prolonga o sacerdócio de Jesus Cristo, na graça e na verdade, como o ramo prolonga o ser da videira: uma profunda intimidade com Jesus que nos leve a poder repetir a conhecida frase “Tu me seduziste, Senhor, e eu deixei-me seduzir”; uma confiança ilimitada n’Aquele que nos anima e conforta; uma vivência dos valores que Jesus viveu e pelos quais se empenhou; uma identificação, sempre mais profunda, com o projecto salvador de Jesus, que é universal e gratuito; e uma entrega completa à comunidade de Jesus, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas.

Caros capelães, agradeço-vos a boa fama de que o Ordinariato goza: efectivamente, deve-se a vós! Continuai! Continuai com o vosso trabalho silencioso e humilde, na certeza de que também é silenciosa e humilde a fermentação para fazer com que a farinha se transforme em pão saboroso que alimenta e faz viver.

Deus vos abençoe.

+ Manuel Linda