Neste primeiro domingo de maio, Dia da Mãe, mais uma vez a tradição de mais de 400 anos se cumpriu. As ruas da Baixa de Lisboa encheram-se de milhares de populares para acompanharem o andor de Nossa Senhora da Saúde na chamada “Procissão dos Artilheiros”. 

Foi em 1570 que os Artilheiros de S. Sebastião instituíram esta devoção, como Acção de Graças a Nossa Senhora depois de um surto de peste contido.

As festividades iniciaram-se no dia 29 de abril com uma Cerimónia de Investidura da Imagem de Nossa Senhora e, no dia seguinte, uma Eucaristia em louvor a São Sebastião. 

Já hoje, na Igreja de S. Domingos, D. Rui Valério, Ordinário Castrense para Portugal, presidiu à Missa que deu início ao dia principal desta Festa.

D. Rui, na sua homilia, reconheceu a “aliança entre Nossa Senhora e a salvação da vida da humanidade e das pessoas sendo por nós louvada e aclamada como a Senhora da Saúde porque, vivendo e confiando na sua maternal intercessão, está garantida a integridade de cada um de nós, tanto no corpo como no espírito, como na alma”. 

Pediu-lhe que continue a “defender-nos de tudo o que atente contra a nossa vida e dignidade de seres humanos”, a proteger-nos contra a mesquinhez e “a assumir os critérios e as medidas de Deus para construir um mundo à sua imagem e semelhança”, não caindo na pior enfermidade que nos pode infetar, o não-amor, o ódio – “Não nos deixeis enfermos, acamados e acomodados no leito do ódio ou da indiferença. Curai-nos. Que Ressuscitemos na novidade de amar a Deus e aos irmãos e de servir a todos, sobretudo aos mais frágeis.”

De tarde, à imensa multidão juntaram-se o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, representantes dos três Ramos das Forças Armadas e das Forças de Segurança, de variados organismos da sociedade civil e centenas de militares, que, saindo da Ermida de Nossa Senhora da Saúde, iniciaram a Procissão percorrendo o centro histórico de Lisboa.

A procissão abriu com a imagem de S. Jorge montada a cavalo e escoltada por um destacamento a cavalo do Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional Republicana. Seguiam-se os membros de diversas irmandades e confrarias de paróquias da cidade e os andores de Santa Bárbara (escoltado por artilheiros do Exército), de S. Sebastião e de Santo António entre outros, escoltados por outras forças militares, policiais ou organizações da sociedade civil.

As bandas do Exército, da Força Aérea, da Marinha e da Guarda Nacional Republicana abrilhantaram a procissão.

Fechando a secção dos andores, vinha a imagem de Nossa Senhora da Saúde, levada em ombros por Cadetes da Marinha e acompanhada pelos elementos da Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e  de S. Sebastião e pelo reitor capelão e diversos sacerdotes, incluindo alguns capelães militares. No Pálio, levado por elementos da GNR e da PSP, ia D. Rui Valério, que presidiu ao evento.

Antes da Bênção Final e já com a procissão recolhida na capela da ermida, o sr. Bispo dirigiu umas palavras à multidão, que transcrevemos:

Em nome de todos, desejo elevar a Nossa Senhora da Saúde um hino de louvor e gratidão porque tal como hoje Ela aceitou a nossa companhia, assim Ela aceita caminhar sempre connosco ao longo dos caminhos da vida.

Nas tuas Mãos, que são mãos de Mãe Puríssima, depositamos as nossas intenções de oração e de lembrança pelas nossas mães que, um dia, nos trouxeram à existência e que nós hoje recordamos. Vos pedimos tanto pelas que ainda estão no nosso convívio histórico, como pelas que já desfrutam da Comunhão dos Santos em Cristo, na Glória do céu. Vos pedimos, nesta hora tão singular: “Santa Maria, mãe de Deus rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte.” Que essa Vossa oração perpétua de Mãe divinal interceda junto do Senhor para que Ele derrame as suas bênçãos e graças sobre as nossas amadas mães.

Nossa Senhora da Saúde, esta manifestação de fé e de gratidão pela proteção que concedestes a Lisboa desde sempre foi assumida pelas nossas Forças Armadas e Forças de Segurança. É um maravilhoso testemunho de quanta humanidade e confiança preside ao desempenho da sua missão de defender e proteger Portugal e os portugueses. Mas revela também até que ponto as nossas Forças Armadas e Forças de Segurança estão dispostas a ir e o que estão dispostas a fazer para garantir a defesa e a segurança dos cidadãos e de Portugal: se necessário for, estão dispostas a solicitar aos Céus ajuda e proteção junto de Vós, Senhora da Saúde. Reconheçamos, pois, o quão imensa é a dádiva das nossas Forças Armadas e Forças de Segurança a Portugal e aos portugueses. Recordemos, neste momento, todas e todos eles com um particular enfoque os que estão, em nome de Portugal, a servir em terras ou mares estrangeiros.  

Mas nesta hora, invocamos ainda Nossa Senhora da Saúde, pedindo-lhe o bálsamo da consolação pelas irmãs e irmãos nossos que sofrem perseguição por causa da sua fé. Como nos tempos da igreja das catacumbas, também hoje os cristãos são os mais perseguidos por razões religiosas. Nossa Senhora da Saúde, não nos abandoneis, não abandoneis a Vossa Igreja que vos ama e em vós confia; não a desampareis.”