[Partilhas de uma manhã de Natal]
“Abre, claro Céu, tuas portas sublimes, Chove-nos o Justo, com que nos redimes.
Entreabra-se a terra, e como uma flor brote lá de dentro o nosso Salvador.” [Hino do advento]
Este é um Natal diferente!
Durante o Advento elevámos cânticos de súplica para que o Senhor viesse, fizesse chover, que abrisse, que fizesse brotar. Verbos que suplicam algo novo.
Hoje, neste local, esses cânticos de elevação fazem todo o sentido. Não porque a terra vermelha está sequiosa, mas porque estas pessoas deles precisam, pois também elas estão marcadas com a secura e a cor da guerra. Precisa cada um de nós. E também o preciso eu!
Este é um Natal diferente!
As músicas, e os filmes de Natal foram trocados pelo Reggaetton e pela euforia dos jogos de volley, e a lareira pelo sol abrasador que faz suar o rosto, camuflando as lágrimas da saudade.
Este é um Natal diferente!
E embora haja saudade, não deixou de ser passado em família. A família que me foi dada pela missão – 14ª FND – QRF/MINUSCA. Esta, tal como a de sangue, não escolhemos, todavia, em qualquer uma delas, podemos ser a família que queremos construir. A única novidade é o sítio, porque a forma é a mesma: estar com aqueles com, e a quem, nos entregamos.
Um Natal grande, uma mesa grande, uma família – éramos mais de 200 pessoas, sem contar com o bacalhau e as rabanadas que se juntaram à festa! Os nossos cânticos de Natal foram cânticos desta família pára-quedista.
Posteriormente celebrámos a Fé, celebrámos Eucaristia, a tradicional missa do Galo (não foi à meia noite local, mas já era meia noite na Etiópia). A celebração começou com a escolha e a preparação do local. Tal como Maria e José, tivemos de procurar um local para o Nascimento. Foi o Evangelho a acontecer. Não éramos muitos, e ao longe ouviamos o barulho da festa daqueles que, pelas suas razões, celebravam com cânticos, danças e brindes este mesmo Deus.
A festa prolongou-se durante a noite, mas o Evangelho, esse, continua a atualizar-se, pois pergunto:
Não serão destes militares, destes anjos que anunciam a consolidação da Paz ou que com Maria geram com todas as suas entranhas a Paz, que este povo precisa?
Fez-se noite no céu, mas luz e alegria no coração daqueles que tantas vezes parece terem-no de pedra.
Fez-se novo dia: Dia de Natal.
Sem a correria das celebrações e das respetivas preparações, tive mais tempo para rezar, para estar em silêncio, mais tempo para estar com o Menino que acaba de nascer. Esta manhã de Natal é uma oportunidade para saborear esta graça que nos é deixada nos braços: o Menino Jesus.
E este Natal foi novo, é NOVO e quer-me fazer novo e de novo. Para ser diferente.
Rezo pela minha família
Rezo pelos meus amigos
Rezo pelos militares, civis e famílias do Regimento de Infantaria nº 10, da Base Aérea nº 8, da 14ª FND – QRF /MINUSCA
Rezo pelos Paroquianos da Paróquia de Santo António do Monte
Rezo pelos Paroquianos da Paróquia de S. Bartolomeu de Veiros
Rezo pela Paroquia Santa Maria Murtosa e pela Paroquia de São Lourenço.
Agradeço os sacrifícios que foram feitos por todos os paroquianos para que vivesse este Natal Diferente, um Novo Natal
Capelão Jorge Manuel Gonçalves