Comemoram-se hoje, 18 de abril, os 400 anos dos Fuzileiros.
A efeméride foi assinalada na Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro na Homenagem aos mortos em defesa da Pátria e na Eucaristia, presidida pelo bispo da Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança, D. Rui Valério.
Na sua intervenção o Responsável pelo Ordinariato Castrense começou por fazer uma comparação entre as marcas que Cristo Glorioso ostenta como prova do seu sacrifício com as marcas que os Fuzileiros conservam como condecoração dos seus notáveis feitos nas “muitas batalhas travadas, de incontáveis desafios superados e de inumeráveis metas conquistadas”.
“Esses sinais não são só as cicatrizes que os Fuzileiros transportam no corpo e na alma, como apanágio de quem viveu e vive, agiu e atua nas mais adversas situações e árduas condições, cruzando mares, lutando em terras sem fim, entre rios de lodo e capim. Também não é apenas a sabedoria adquirida pela experiência, que os torna aptos a realizar impossíveis e a transformar dificuldades em oportunidades e ocasiões favoráveis. Mas são também as marcas da honra, da entrega, do serviço e da camaradagem”, dizia D. Rui Valério.
Depois, centrando-se no epíteto “Heróis do Mar” do “glorioso Hino Nacional”, o Bispo Castrense afirmou que os “Fuzileiros têm realizado a profecia expressa na epopeia dos Lusíadas, em perfeita consonância com a revelação cristã, segundo a qual é o amor que conduz os portugueses à imortalidade. Não o amor no sentido vulgar da palavra, mas o amor num sentido mais amplo: o amor desinteressado, o amor da pátria, o amor ao dever, o empenhamento total nas tarefas coletivas, a capacidade de suportar todas as dificuldades, todos os sacrifícios. É esse amor que, já manifestado por Vasco da Gama e pelos seus homens, foi herdado pelos gloriosos Fuzileiros de todos os tempos, pelos marinheiros e soldados; é ele que permite a tantos libertar-se da “lei da morte”. É também esse amor que conduziu Camões a “espalhar” os feitos dos seus compatriotas por toda a parte e hoje nos interpela a mostrá-los novamente ao mundo, mas sobretudo a Portugal”.
Partindo da etimologia da palavra Fuzileiro que indica algo a expandir-se, D. Rui refletiu depois sobre o Tempo Pascal como um movimento expansivo refletido na liturgia que nos apresenta o início do anúncio da Boa Nova, da vida nova vencedora da morte que nos vem da Ressurreição de Cristo. “Essa mesma vida vencedora da morte expande-se pela humanidade, e quando é acolhida por alguém, leva-o a uma profunda transformação da sua própria vida, condu-lo à renovação existencial, reorienta o seu caminho, e empreende uma mudança de procedimentos e de padrões, como diz o Apóstolo Pedro: «arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados» (Act 3, 19).
O prelado continuava afirmando que “esse movimento, de expansão e abertura, constitutivo da essência dos Fuzileiros, também nos identifica, de certo modo, como Povo e como Nação. Portugal é sempre grande, mas foi superiormente grande quando ousou sair e se expandiu, dilatando os seus valores e até a sua cultura. Neste momento da nossa história, Portugal precisa muito do valor, da mais-valia que os Fuzileiros têm para dar e oferecer. O vosso hino é um roteiro que nos conduz a terras longínquas, muitas delas hoje a necessitar de paz, de humanidade, de quem sirva o povo pobre e humilde”.
“Caros Fuzileiros, mantenham acesa a chama da prontidão e da disponibilidade para ir onde é preciso e onde homens como vós são tão necessários quanto o pão. Preservai no espírito de bem servir e conservai-o intacto para que, em momentos de crise, como o que atravessamos atualmente, quando às crises pandémica, social e económica se veio juntar também uma dramática crise cultural e civilizacional, nos voltemos para vós, Fuzileiros, e encontremos quem defenda e promova a paz, a verdade, a justiça e o bem de Portugal e dos portugueses com a dádiva da própria vida”, apelava D. Rui.
No último ponto da homilia refletiu sobre o realismo da verdade patente tanto na primeira leitura como no Evangelho – “São Pedro coloca o povo que o escuta perante a grave responsabilidade que tiveram na condenação de um inocente (cf 3, 13-15); e Jesus, no evangelho, insiste em revelar e vincar bem que é real, que não é um fantasma (cf 24, 39), ou seja, não é uma invenção, nem um mito, mas é real, é verdadeiro”. A este propósito dizia que estes “são recursos para suscitar em nós o sentido da verdade e a coragem da realidade. Para sentir e para olhar de frente e respeitar a verdadeira realidade requerem-se força e lucidez de discernimento. Os Fuzileiros têm na alma tanto a sabedoria da perspicácia, como a robustez da invencibilidade. Focile, uma outra pista lexical para a raiz de Fuzileiro, remete para o aço que percutido pela pederneira, faz lume e produz a explosão do cartucho”.
“Caros Fuzileiros, jamais haveis temido o que quer que fosse e nada temeis! Essa vossa fortaleza e solidez interior que vos carateriza, feita de bravura, de coragem, de competência e de confiança em Deus e na humanidade, seja apresentada ao mundo de hoje, sobretudo aos jovens, para nunca temerem a verdade. Para que, em circunstância alguma, se volte a cara à realidade, porque no mundo real estão pessoas concretas e bem reais que precisam de ser auxiliadas, defendidas e protegidas. Por elas e pela Pátria, em todos os tempos, os Fuzileiros deram, a sua vida”.
Terminava pedindo pelos gloriosos Fuzileiros que tombaram no campo da honra.