Homilia de D. Rui Valério, Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, hoje (31-05-2020), Domingo de Pentecostes, no Instituto de Ação Social das Forças Armadas – Centro de Apoio Social de Oeiras (CASO).

Caras irmãs e caros irmãos

  1. Hoje vivemos na Igreja um verdadeiro Pentecostes.

Como em Jerusalém há dois mil anos, também hoje as portas fechadas das nossas casas se abriram pelo sopro impetuoso do Espírito. E como os discípulos que saíram do cenáculo, foram pelo mundo anunciar, louvar e glorificar o Senhor e instaurar o Seu Reino no coração da nova história, também nós viemos celebrar o Senhor Ressuscitado nas nossas igrejas finalmente abertas, depois de um longo período de ausência do Povo de Deus. E neste regresso renascemos e renovamos em nós a sede dessa fonte incomensurável de vida que é a Eucaristia.

  1. O dom do Espírito Santo vem acompanhado do dom da paz, do envio em missão e da graça do perdão: «”A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós.” Dito isto, soprou sobre eles e disse lhes: “Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos.”» (Jo 20, 21-23) De certa maneira, encontramos aqui o essencial da nova vida em Cristo. Até podemos dizer que na paz, no envio em missão e no perdão reside o ADN do discípulo. Assim, reconhecemos que o Espírito Santo é o principal garante do que é essencial; como ainda é Ele que cria, salvaguarda e cultiva em nós a identidade cristã de cada discípulo de Jesus.

Por isso, para estes novos tempos de pós-confinamento e de regresso à normalidade, a presença e ação do Espírito Santo nas nossas vidas é incontornável. Só Ele nos dá a sabedoria para escolhermos aquilo que realmente é fundamental na estrutura da nossa vida. Que Ele nos remeta para a sobriedade e para o desprendimento, tornando-nos solidários e fraternos na relação com os irmãos.

  1. Que na concretização dessa identidade, ele nos faça crescer na sabedoria da paz. Ao voltarmos o nosso olhar para a história, sejamos capazes de interpretar tudo o que os outros nos dizem ou fazem, como também aquilo que nós próprios dizemos ou fazemos, numa perspetiva de paz. Sejamos benevolentes ao interpretarmos as palavras e os gestos dos outros, tal como desejamos que eles sejam connosco, porque sem a benevolência do olhar nenhuma relação humana pode sustentar-se.

Que o Espírito nos impele ainda a sair de nós mesmos, do nosso comodismo, da nossa zona de conforto, para nos abrirmos ao testemunho de Cristo, ao Seu amor por nós, através da promoção da justiça e da defesa incansável da dignidade de todas as pessoas, superando, assim, todas as formas de discriminação.

Ainda é o Espírito Santo que nos habilita e torna capazes de perdoar e ser perdoados. O perdão vivido no concreto da vida implica sempre, ao mesmo tempo, uma perda e uma dádiva. Perda (etimologicamente tem a mesma raiz de perdão) do nosso orgulho, da nossa altivez, da sobranceria de achar que se tem sempre razão… e dádiva (etimologicamente per-donare – para dar): o perdão, no fundo, oferece a vida, é um ato de ressurreição porque a pessoa perdoada é pessoa vivificada. Quando se acumula vingança e ódio transformamo-nos em sepulcros cheios de morte. Por isso, só o perdão, dom do Espírito Santo, nos vivifica e nos torna capazes de uma existência autenticamente humana.

Que o Espírito Santo e Nossa Senhora, de quem hoje, trinta e um de maio, celebramos a Visitação, nos iluminem e acompanhem na prática e vivência da nossa fé. Que a nossa presença física nas celebrações comunitárias nos impelem a sermos dóceis à vontade de Deus para nos deixarmos transportar rumo ao mundo para o transformar, ao encontro dos irmãos para lhes levar amor e serviço na solidariedade. Amen!

+Rui Valério

Bispo das Forças Armadas e Forças e Segurança