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Curioso, este título dado pelo povo cristão à Mãe de Deus: Nossa Senhora da Saúde. Evidentemente, começa por se referir a uma carência com a qual todos topamos ao longo da vida: o mistério profundo da doença e a dor, física e psicológica, que ela nos causa.

Quer essa doença aconteça em nós, quer se verifique naqueles com quem entrelaçamos a nossa vida. Por isso, ao invocar a Senhora da Saúde reconhecemo-nos como frágeis e carentes. E reconhecemo-La como poderosa e capaz de suprir os nossos limites.

Mas, o que é a saúde? Habitualmente, reduzimo-la à célebre noção proposta pela OMS: um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença. Esta definição já diz alguma coisa, mas não diz tudo. A saúde é uma realidade ainda mais complexa e, porventura, não estará completa se lhe faltarem as dimensões espiritual e religiosa.

A grande convicção que perpassa pela mente dos cristãos é que só Jesus Cristo é a salvação do homem e do mundo. Ser «salvo», encontrar a «salvação» foi sempre a grande ânsia humana. Neste nosso tempo de acentuada crise de civilização, o tema volta a colocar-se com especial acuidade. Há quem tenha caído no desânimo e não creia na possibilidade da salvação, como escreve um notável pensador: “Outrora, havia as religiões de salvação: o cristianismo e o marxismo ofereciam uma esperança de resgate ou de redenção para o homem. Agora é preciso anunciar a má-nova, o anti-evangelho: «Não há nenhuma salvação»” (Edgar Morin, Pour sortir du xxe siécle).

Mas a noção de salvação coloca-se bem ao centro da perspectiva cristã, tal como se professa no Credo: “Por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos céus…”. Por isso, ao contrário de tantos cépticos, nós dizemos que, efectivamente, há salvação. Salvação que, pela negativa, não coincide com aquilo que a mentalidade dominante julga: o poder, o ter, o dominar, o gozar, etc. Mas que é, pela positiva, a verdade de se sentir salvo no Amor e pelo Amor, de se experimentar valioso aos olhos de Deus e possuidor de um destino final bom, não obstante o pecado e o mal no mundo.

Nossa Senhora da Saúde, convida-nos a fazer a descoberta desta noção de salvação: não estamos sós nem abandonados. O mundo tem à sua frente um destino feliz, um porto de abrigo, pois Jesus projecta-nos para o Reino de Deus que é liberdade, justiça, paz, amor, fraternidade e não caos, destruição ou sem-sentido. Porém, não tentemos a Deus: não esperemos que seja Ele a garantir-nos o que nós podemos e devemos fazer: um empenho muito forte e comprometido junto dos nossos irmãos que sofrem qualquer carência, particularmente o insuportável mal da solidão, o terrível infortúnio do abandono, a amargura da falta de amor, a tribulação da fome e da pobreza, a desventura da carência da saúde, particularmente quando ela se poderia recuperar.

Manuel Linda