Como anunciado, realizou-se de 25 de Fevereiro a 4 de Março. Participou um número elevadíssimo: oitenta e quatro fiéis.
Dois objectivos presidiram a esta peregrinação: demonstrar o apoio moral aos poucos cristãos que, heroicamente, mantêm viva a chama da fé nesta terra abençoada pelos passos de Jesus, não obstante uma certa perseguição política e religiosa, ainda que encapotada; e fomentar a cultura da fé, ao permitir descobrir a «lógica interna» de tantos factos referidos na Bíblia, associando-os à história e à geografia do contexto onde se deram.
Conciliação de fé, lazer e cultura
Como não se tratava de uma simples viagem cultural, mas sim de um verdadeiro seguimento dos «passos» de Jesus, a oração estava sempre presente: oração da manhã e da tarde, Missa diária e, algumas vezes, a recitação do terço. Mas isto, que poderia parecer demasiadamente «beato», foi assumido por todos como algo de absolutamente natural e desejado. A prova disso é o coro que se constituiu, não obstante, antes desta romagem, as pessoas nem sequer se conhecerem.
Durante cada um dos dias, a peregrinação privilegiou sempre duas componentes fundamentais: a recordação dos dados bíblico-religiosos dos locais visitados e uma parte mais cultural ou até de lazer. Foi assim que, neste aspecto, se visitaram espaços tais como as ruinas da cidade «imperial» de Cesareia Marítima, os jardins da sede mundial da religião Bahai, as grutas de Qumran, o Mar Morto, a «Explanada das Mesquitas», o «Muro das Lamentações», o Museu do Holocausto, o túmulo de David, um kibutz, etc.
Estrutura de três núcleos significativos
Quanto ao dado bíblico, não se pretendia –nem tal era possível- um percurso cronológico. Privilegiou-se a proximidade geográfica dos locais onde se verificaram acontecimentos que muito dizem à fé cristã. De ressaltar, então, três núcleos mais significativos. No primeiro dia, fez-se a «estrada do mar», entre Jaffa, ligada à abertura do cristianismo a todos os povos por causa da visão de S. Pedro, e o Monte Carmelo, lugar simbólico da luta contra o politeísmo e afirmação do Deus Único, com o Profeta Elias. Foi aqui que nasceu a Ordem Carmelita. A dois passos, via-se S. João de Acre e o Líbano, locais intimamente ligados aos Cruzados.
O segundo núcleo, de dois dias, andou à volta do ministério de Jesus na Galileia, onde passou a maior parte da sua vida, quer privada, quer a de anúncio e de gestos salvadores. Visitaram-se locais como as igreja da Anunciação e de S. José, em Nazaré; a do primeiro milagre ou da transformação da água em vinho, em Canã; o local da Transfiguração, no Monte Tabor e, obviamente, o Lago da Galileia ou de Tiberíades, com os locais emblemáticos do primado de Pedro, da casa familiar deste em Cafarnaum, o sítio da multiplicação dos pães e dos peixes, o monte das Bem-aventuranças, etc. No regresso ao sul, passou-se, também, pelo local onde João costumava baptizar.
A centralidade da «Cidade Santa»
O terceiro núcleo, o mais determinante, foi constituído pelos locais santos de Jerusalém e Belém. Ao longo de quatro dias, visitaram-se as igrejas que assinalam a visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel e onde nasceu S. João Baptista, a do «Pai Nosso» e da Acensão, a casa de Nossa Senhora e o local da sua «dormição», o Cenáculo e a piscina probática onde foi curado um paralítico, o Getsémani e a «Dominus flevit», etc. Evidentemente, os pontos mais altos foram a Via-sacra até ao Calvário e a visita ao que se encontra na actual igreja da ressurreição (local da crucifixão, túmulo de Jesus, e espaço onde o Ressuscitado apareceu a maria Madalena). O mesmo se diga da igreja da Natividade e «campo dos Pastores», oásis de fé e tranquilidade numa zona oprimida politicamente, como é Belém.
Uma fé de ternura
Porque se reservou uma tarde para a compra das tradicionais recordações, na prática, a peregrinação terminou com a Missa na igreja de S. Pedro «in Gallicantu», na casa do Sumo-sacerdote onde o Príncipe dos Apóstolos negou três vezes o seu Mestre e, como profetizado por Ele, um galo cantou. Na homilia, D. Manuel Linda, que acompanhou a peregrinação, sublinhou uma passagem do Evangelho, segundo a qual, aquando da negação de Pedro, Jesus olhou para ele. E interrogou: “Qual o timbre deste olhar? De condenação? Não! É um olhar de compreensão e de ternura. O Mestre sabia bem da fraqueza de Pedro. E sabia que esse olhar o ajudaria a levantar-se do abismo de fraqueza e de remorso em que ele mesmo se afundou. Então, tenhamos uma certeza: também nas nossas vidas, mesmo que nos prostrássemos na baixeza mais profunda, o Senhor olhar-nos-ia com igual ternura e misericórdia”.
A julgar pelos testemunhos dos participantes, esta peregrinação constituiu um assinalável êxito cotado com a classificação máxima. Mais um motivo para, proximamente, se pensar numa outra. Possivelmente, lá para Outubro.