“Bem aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Jesus)

Testemunho de um médico italiano

Testemunho do médico italiano Lulian Urban de 38 anos, médico na Lombardia, Itália, 21 de março, 2020.

“Nunca. nos meus pesadelos mais escuros, imaginei que poderia ver e experimentar o que está a acontecer aqui no nosso hospital durante estas três semana. O pesadelo cresce e o rio fica cada vez maior. A principio vieram alguns, em seguida dezenas e logo de seguida centenas e agora já não somos médicos, mas convertemo-nos em classificadores na passadeira e decidimos quem deve viver e quem deve ser enviado para casa para morrer. E todas são Pessoas! E mais… durante toda a vida pagaram os seus impostos….

Até há duas semanas atrás, tanto eu como os meus colegas éramos ateus. Era normal, porque somos médicos e aprendemos que a ciência exclui a presença de Deus. Aliás, até me ria dos meus pais por irem à igreja.

Há nove dias, veio para cá um sacerdote de 75 anos. Era um homem amável, com problemas respiratórios graves, no entanto trazia sempre a Bíblia consigo e impressionava-nos porque a ia ler aos moribundos e pegava-lhes na mão. Estávamos todos cansados, desanimados psicologicamente quando tínhamos tempo para o escutar.

Agora temos de admitir: nós, como humanos, atingimos os nossos limites, não podemos permitir que cada vez mais pessoas morram todos os dias. Estamos exaustos, temos dois colegas que morreram e outros que foram infetados. Demo-nos conta dos limites até onde o homem pode fazer. Necessitamos de Deus e começámos a pedir-lhe ajuda quando temos uns minutos livres. Falamos entre nós e não podemos acreditar que, como ateus ferozes, estejamos agora todos os dias em busca da nossa paz, pedindo ao Senhor que nos ajude a resistir para que possamos cuidar dos doentes.

Ontem o sacerdote de 75 anos morreu. Até agora, apesar de termos tido mais de 120 mortes em 3 semanas, e estarmos todos esgotados, destruídos, ele tinha conseguido, apesar das suas condições e das nossas dificuldades, trazer-nos alguma PAZ que já não esperávamos encontrar.

Este sacerdote partiu para o Senhor e em breve segui-lo-emos também se as coisas continuarem assim.

Há seis dias que não vou a casa e nem já sei quando comi pela última vez e dou-me conta da minha inutilidade nesta terra. Quero tomar o meu último fôlego para ajudar os outros. Estou feliz por ter regressado a Deus enquanto estou rodeado pelo sofrimento e a morte dos meus semelhantes”.

Testemunho recolhido por Gianni Giardinelli.

Um dia, um grupo de famosos eruditos veio visitar o Rabi Mendel de Kozk que de repente os surpreendeu com a pergunta: «Onde está Deus?» Eles sorriram: «Mas o que é que te deu? Então o mundo não está cheio da sua glória?»

Foi o próprio Rabi que deu a resposta: «Deus está onde nós O deixamos entrar.»

Seja numa enfermaria de hospital, hoje autênticos Calvário, seja no leito do sofrimento, ou em nossas casas onde a Quaresma se faz quarentena para se fazer Páscoa, Deus está lá. Está sempre lá!