O Pároco de Mesão Frio, antigo Capelão militar, pediu uma «mensagem» para a cerimónia de homenagem aos antigos combatentes, que incluiu Missa, estátua e atribuição do nome de uma rua. Ei-la.

Saudação aos «Antigos Combatentes» de Mesão Frio

e a quantos se lembram deles

Saúdo cordialmente quantos se reúnem, em assembleia celebrante, para recordar a memória e o sacrifício dos «Antigos Combatentes»: os que podem usar esta designação, as suas famílias, o Presidente e a Vereação da Câmara Municipal de Mesão Frio e o meu colega e amigo, senhor P. Luís Saavedra, que me pediu este testemunho.

Dizem os estudiosos da antropologia cultural que a humanidade só se «civilizou» ou «humanizou» quando os indivíduos confiaram a um organismo superior as tarefas básicas da justiça, da defesa e segurança, da boa coordenação social, etc. E assim a apareceu o Estado, como garante de protecção do fraco e do indefeso.

Ora, um dos bens mais fundamentais é o da paz, estreitamente relacionado com o da liberdade. Mas, como «bens árduos», para que o Estado os possa garantir, necessita do sacrifício de muitos dos seus cidadãos. Sacrifício, infelizmente, tantas vezes traduzido em ausência da família, saudade, medo, difíceis condições de vida, doenças e até derramamento de sangue e morte. Oxalá o progresso moral da humanidade e o seu crescimento em bondade nos conduzam à fase da história em que todos estes sacrifícios nunca mais sejam necessários. Para isso, é preciso que nos sintamos mais fraternos, mais «inteira família humana».

Nesta linha de ideias, posso afirmar que não recordamos os «antigos combatentes» pela violência que tiveram de exercer, pelo terror e temor que semearam, pelas «baixas» que infligiram o inimigo. Recordámo-los porque sofreram para que nós não tivéssemos que sofrer a injustiça, a tirania, a opressão e a destruição dos laços familiares e sociais. Como tal, só seremos dignos deles se os valores que nos legaram forem por nós vividos para a construção de famílias mais unidas e sociedades mais livres, respeitadoras, justas e fraternas.

Estamos em tempo pascal. Pomos os olhos em Jesus Cristo, suprema vítima do ódio e da injustiça, que também sofreu dores extremas para nos reconciliar com Deus e uns com os outros. Seja o seu exemplo um desafio para edificarmos uma sociedade de paz, liberdade e justiça na qual não mais seja necessário sofrer e fazer sofrer, defender e atacar. Enfim, uma sociedade na qual não haja necessidade de outros combates que não seja pelo bem, pela verdade e pela beleza de uma vida fraterna.

Invoco sobre todos as bênçãos do Senhor, morto e ressuscitado para nossa salvação.

Manuel Linda