No final de Maio, em Momemo, a cerca de 30 Km de Maputo, o Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança participou num encontro entre delegados do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (SECAM) e do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE).

O objectivo directo era trocar experiências sobre as realidades das Igrejas na Europa e na África, especialmente no relativo à família. Estiveram presentes vinte e dois bispos: onze da Europa (da França, Grécia, Alemanha, Espanha, Ucrânia, Suécia, Inglaterra, Itália, Holanda, Áustria e o Ordinário Militar de Portugal) e outros tantos de África. Foi publicado um comunicado final, que se segue a este texto.

Em jeito de síntese, apresentam-se, também, algumas impressões:

  1. Notou-se algum pessimismo por parte de bispos europeus e de quase todos os africanos. Estes porque sentem que a globalização está a ser a da «asneira» e não a do bom senso: forte pressão da ONU, ONG’s e muitos organismos políticos para a difusão do «casamento homossexual», contracepção em massa, apologia do aborto, deformação das mentalidades nas Escolas, etc. Os bispos europeu não afinaram todos pelo mesmo diapasão: uns fizeram notar a secularização; outros, como os da Suécia e Inglaterra, ressaltaram sintomas de recuperação da fé e dos valores.
  2. Em África, o Islamismo está a avançar inexoravelmente. Está a chegar a zonas onde não era de supor. Falou-se em duas atitudes por parte do Islão: um Islão dialogante, colaborador e «educado»; mas também, em várias zonas um Islão que se pretende impor pela força.
  3. Sob o ponto de vista da prática religiosa, também na África se passam fenómenos semelhantes ao europeu: algum afastamento da prática religiosa depois do Crisma, algum «regresso» para o Baptismo dos filhos, baixa do número de Matrimónios canónicos, etc. Não obstante, na prática religiosa nota-se muita juventude.
  4. Os meios de comunicação social difundem uma cultura do bem-estar e da abundância, género «estilo de vida americano» que, na África não é possível, por motivos óbvios. Por isso, os novos são tentados a recorrer a meios nem sempre lícitos: trafico ilegal, drogas, roubo e violência, corrupção, imigração ilegal, etc. Até os «quadros» são tentados a procurar na Europa o conforto que não encontram na África, com prejuízo para os seus países.
  5. Estão a desenvolver-se em África doenças que imaginávamos mais típicas dos ricos. Por exemplo, o cancro. E a África não dispõe dos mesmos meios de tratamento que o Ocidente. De forma geral, as sociedades africanas continuam muito pobres e os índices de desenvolvimento não são encorajadores.
  6. Parece afirmar-se um notável aumento de vocações, mormente ao sacerdócio.
  7. Sob o específico ponto de vista da pastoral familiar, insistiu-se na necessidade de «novo vigor» na preparação dos jovens para o matrimónio (uma espécie de catecumenato matrimonial), coisa que algumas Igrejas de África já fazem, no acompanhamento dos novos casais por outros casais cristãos (o verdadeiro sentido dos «padrinhos» do casamento) e nos movimentos da pastoral familiar ao longo de toda a vida.
  8. Propende-se a acusar os poderes públicos de destruir a família. Porém, mais do que lançar acusações, há que evangelizar e «converter» a política e a cultura dominante, pois os agentes políticos tendem a favorecer e implementar as percepções da maneira generalizada de pensar.

 

Este encontro terminou com a concelebração eucarística na Paróquia de Nossa Senhora do Livramento, nos arredores de Maputo, confiada a missionários espanhóis. Trata-se de uma enorme igreja, com mais de mil lugares sentados. Estava completamente cheia e com muitos fiéis em pé. A Missa foi relativamente «rápida», pois não ultrapassou as três horas e um quarto… Mas, de facto, foi possível ver o que, na Europa, só muito limitadamente se verifica: uma enorme alegria pela celebração do Domingo, sacrifício das longas deslocações para poder participar na Eucaristia, um forte sentido de comunidade, uma alegria quase palpável, assembleia maioritariamente jovem (crianças, adolescentes e jovens), grande participação na oração e no canto, sentido da partilha, não obstante a pobreza, etc. Muitos dos europeus, que não conheciam esta dinâmica, como que ficaram «envergonhados» no confronto com estas comunidades de fé.

É possível que o próximo encontro SECAM/CCEE se realize em Portugal, em Maio de 2017, por motivos do centenário das Aparições de Fátima.