Bispo das Forças Armadas e de Segurança pede fim de guerra, denunciando «barbaridade»
Lisboa, 27 fev 2022 (Ecclesia) – O bispo das Forças Armadas e de Segurança em Portugal, D. Rui Valério, disse à Agência ECCLESIA que a guerra na Ucrânia é uma “barbaridade” que mostra a prevalência de outros interesses sobre a defesa da vida humana.
“Nos pratos da balança, verificamos que a vida humana continua a ser o mais leve, o elo mais fraco”, refere o responsável católico.
Segundo D. Rui Valério, a invasão russa, iniciada na madrugada da última quinta-feira, “diminui o papel da palavra”, da negociação, no cenário internacional.
“Essa é a primeira grande consequência. A palavra, o diálogo, era a grande força da cultura, do mundo ocidental”, observa o bispo do Ordinariato Castrense.
O entrevistado destaca o sentimento de “impotência” perante o avanço da Rússia e sustenta que “a diplomacia só funciona se, por detrás, houver capacidade militar e económica, que não existe neste momento”.
D. Rui Valério convida a rezar e a aderir à jornada de jejum pela paz que o Papa convocou para 2 de março, numa hora “tão dramática” para o mundo e em especial para a Europa, deixando uma mensagem de solidariedade à população ucraniana.
“Sentimos como nosso o sofrimento daquele povo, que ao longo da sua história tem sido muitas vezes martirizado”, declarou.
”Estamos a rezar pela paz, na senda do que o Papa Francisco tem dito, para que se pare de imediato esta barbaridade, esta irracionalidade que está a acontecer no território da Ucrânia. Que se pare já!”
O bispo das Forças Armadas e de Segurança aponta à dimensão de “solidariedade” e de “combate contra o mal” que se revela na tradição do jejum, no Cristianismo e outras tradições religiosas ou culturais.
“O jejum reforça a presença de Deus naquilo que são os nossos empreendimentos”, precisa.
Apontando à jornada da próxima Quarta-feira de Cinzas, D. Rui Valério convida a recordar o povo da Ucrânia e também o da Rússia, que vivem a “privação” de um bem fundamental, que é a paz.
O responsável católico confessa um “sabor amargo”, por ver o regresso dos conflitos militares na Europa e a “incapacidade de agir” perante este anúncio de guerra, que foi durante muito tempo colocada como “mera hipótese académica”.
“Temos vindo a assistir, nos últimos meses, a um sucessivo crescimento do sentimento de impotência da humanidade para travar este tipo de conflitos”, indica.
D. Rui Valério fala do Papa Francisco como “um verdadeiro pontífice – o que faz pontes”, que pede a todos “sintonia” com o “coração de Deus”, na construção da paz.
“A vontade permanente de Deus para a humanidade é que nos pautemos pela concórdia, pela harmonia e a fraternidade”, acrescenta.
Questionado sobre um possível envolvimento dos militares portugueses no conflito, D. Rui Valério partilha o receio de que alguns dos países da NATO tenha alguma ação que envolva todos, “de uma forma muito direta”.
“Este conflito vai ter consequências a um nível global”, aponta.
O primeiro-ministro, António Costa, anunciou que Portugal vai antecipar o envio uma companhia de Infantaria de 174 soldados portugueses para a Roménia, depois de uma reunião entre todos os Estados-membros da NATO e ainda a Suécia e a Finlândia.
D. Rui Valério apela à ponderação, criticando a ausência de qualquer fator de racionalidade na guerra, em particular num mundo ainda marcado pela pandemia.
“Tivemos aqui uma grande potência, militar e energética, a colocar todo um continente, para não dizer o planeta inteiro, na incapacidade de reagir, de combater a guerra, o mal”, lamenta.
A entrevista vai estar em destaque na emissão deste domingo no Programa ‘70×7’, a partir das 07h25, na RTP2.
OC (Ecclesia)