Parada1

D. Manuel Linda visitou a missão de paz no Kosovo. Por motivos pastorais. Mas também para demonstrar o quanto aprecia os que se dedicam à causa da paz.

Não estou aqui por razões turísticas. Venho com dois objectivos muito concretos, ambos de inegável importância: celebrar a fé com quem a vive no dia-a-dia, administrando os Sacramentos da Iniciação Cristã, e demonstrar o meu mais profundo agradecimento pela forma generosa, abnegada e inteligente como tendes contribuído para que esta sociedade kosovar se reencontre no respeito dos direitos humanos, da democracia e da paz”, assim se exprimiu o Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança na saudação aos cento e noventa militares portugueses presentes na missão de paz no Kosovo: cento e oitenta e um do 2º Batalhão de Pára-Quedistas, que constituem a Força Nacional Destacada ao serviço da KFOR, e nove a trabalhar em diversos sectores do Quartel-General dessa mesma Força.

Diversidade de contactos

A visita decorreu de 26 a 29 de Agosto e D. Manuel Linda foi acompanhado pelo capelão Adjunto para o Exército, P. Jorge Matos. Correspondeu a um pedido do capelão da Força, P. António José Santiago, corroborado pelo Comandante do Batalhão, TCor Francisco Sousa, e devidamente autorizado pelo Chefe de Estado-Maior-General da Forças Armadas e pelo Chefe de Estado-Maior do Exército.

Recebido no aeroporto de Pristina pelo Comandante do Batalhão, ao qual se juntou o Cor Benrós, do Quartel-General, o bispo foi conduzido ao aquartelamento onde se alojou, em pé de igualdade com os militares. O programa, bastante intenso, foi cumprido integralmente. Destaque para a visita ao General italiano Guglielmo Luigi Miglietta, Comandante da KFOR, que teceu os mais rasgados elogios aos militares portugueses; ao único bispo católico do Kosovo, D. Dodë Gjergji, que referiu a aceitação pacífica da minoria católica (cerca de 3%) pela maioria muçulmana e lhe mostrou as obras da imponente catedral dedicada à Beata Madre Teresa de Calcutá; e ao Mosteiro Ortodoxo de Decani, declarado pela ONU património da humanidade, continuamente sob a protecção de uma força dos Carabinieri italianos, já que a ortodoxia continua muito mal vista no Kosovo, pois se associa a Slobodan Milosevic, antigo Presidente da República Federal da Jugoslávia, actualmente preso por crimes contra a humanidade.

A «intervenção humanitária»

No dia-a-dia, D. Manuel Linda contactou não só com os militares portugueses, mas também com a Companhia húngara que se integra neste Batalhão. Na homilia da Missa, na qual foram crismados dez fiéis e um outro recebeu a Eucaristia pela primeira vez, destacou o valor da caridade social, traduzida em obra de pacificação, alertou para a necessidade de um verdadeiro «espírito de corpo» nestas alturas em que a ausência da família e do meio habitual acentuam as dificuldades e a melancolia, e destacou a fé como ambiência de liberdade que aponta metas de humanismo e «veta» caminhos que se opõem à dignidade humana.

Na parada, na formatura da manhã, a convite do Comandante, dirigiu-se a portugueses e húngaros, mediante tradução, para lhes afirmar: “Moralmente, somos responsáveis pelo bem dos outros. Se virmos alguém a sofrer e não ajudamos essa pessoa, cometemos o crime jurídico e ético de reato. Do mesmo modo se passa com as nações: se uma sofre e, por si, não consegue ultrapassar esse sofrimento, o mínimo que se espera é que as outras a ajudem. É a doutrina da «intervenção humanitária», tantas vezes pregada  pelo Papa S. João Paulo II. E é isso mesmo que Portugal e a Hungria estão a fazer. Mas fazem-no mediante cada um de vós, com o seu contributo extraordinário, por vezes não isento de sofrimento. Para vós, pois, os meus mais sinceros parabéns”.

Não se abandone o Kosovo

Desta visita pastoral, para além de muitas outras, seriam de ressaltar duas ideias: a boa aceitação geral da bondade e da santidade da Madre Teresa de Calcutá, a quem é dedicada a belíssima catedral, ainda em construção, e a avenida principal da cidade; e a indefinição quanto ao futuro desta zona dos Balcãs. De facto, a este respeito, parece que a ONU e a sociedade kosovar ainda não sabem bem o que querem: muitos desejam a integração na vizinha Albânia, outros querem igual processo na Serbia e outros desejam a independência. Mas esta, concretamente, parece ainda muito longínqua: a sociedade não dispõe, de facto, nem de Forças Armadas, nem de parlamento, nem de leis próprias nem das outras estruturas típicas de uma nação livre. Por isso, se neste momento se retirasse o «guarda-chuva» dos militares dos vinte e quatro países que lá asseguram a paz, seria previsível que a instabilidade regressasse a este pequeno povo de cerca de 1.800.000 habitantes. Uma razão moral, por conseguinte, para prosseguir esta força de paz e, em simultâneo, a nível da ONU e da União Europeia, se darem passos mais significativos em ordem à efectiva criação do Estado do Kosovo, se essa for a vontade da população.

Crisma

Estado Maior

Com Abade ortodoxo