Fiães, Santa Maria da Feira, 23 de Outubro de 2025 – Capelães das Forças Armadas e das Forças de Segurança de Portugal reuniram-se ontem em Fiães, Santa Maria da Feira, para celebrar o seu padroeiro, São João de Capistrano, e participar num encontro fraterno e de reflexão. O evento foi acolhido pelo Padre Benjamim Silva, capelão natural da terra.

O encontro, convocado pelo Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança de Portugal, D. Sérgio Dinis, visou proporcionar um momento de comunhão, celebração e partilha sobre os desafios da missão que lhes é confiada.

O programa do dia incluiu o acolhimento na Igreja Paroquial, seguido de um almoço. A tarde foi dedicada a momentos de partilha e confraternização, incluindo uma visita ao Museu de Lamas, e uma comunicação central.

O ponto alto da tarde foi a comunicação com o tema «Ser Capelão Hoje: Experiência e Desafios», proferida pelo Padre Benjamim Silva. O orador, que recentemente entrou na reforma, partilhou a sua experiência de vida e serviço, abordando os desafios que se colocam ao capelão na atualidade.

No início da exposição, D. Sérgio Dinis, Bispo Castrense, expressou o seu agradecimento pela visita ao museu e pelo almoço.

O Padre Benjamim Silva, na sua intervenção, salientou a importância de viver a pastoral “de coração aberto”, reconhecendo o trabalho e a dedicação dos capelães, que muitas vezes enfrentam uma sobrecarga que pode gerar um “sentimento de vazio”. Referiu que “somos quase todos heróis”, e reforçou que o capelão deve viver o serviço de forma plural, em comunhão, seguindo o exemplo de um Deus que é “comunhão de vida”.

Abordando as mudanças rápidas na Igreja, que podem levar a um sentimento de “desconcerto” nos mais velhos, o sacerdote destacou que a “âncora é o Senhor” e sublinhou a necessidade de escutar a Palavra e o “silêncio” para cuidar dos mais frágeis. O desafio de “saber comunicar, sem corantes nem conservantes”, e o cuidado com a “aparência” em detrimento do “ser” também foram abordados.

O orador partilhou as suas experiências em missões internacionais, destacando a felicidade sentida nesse serviço, e deixou um apelo para se continuar a lutar pelo acompanhamento dos militares nas Forças Nacionais Destacadas (FND), captando-os numa “pedagogia de acolhimento” e de proximidade. O Pe. Benjamim Silva terminou a sua intervenção manifestando a sua disponibilidade para continuar a servir e recitou um poema de São João Maria Vianney sobre o desejo de amar a Deus até ao fim da vida.

D. Sérgio Dinis considerou “bendita a hora” em que foi escolhido o Padre Benjamim para esta palestra, agradecendo a partilha de vida, a entrega no serviço, e o trabalho continuado dos que chegam à reforma, abordando ainda aspetos da agenda do Ordinariato Castrense.

A comunicação do Padre Benjamim incluiu ainda uma reflexão sobre a sinodalidade da Igreja, citando um texto do Cardeal Hume. Neste excerto, o Cardeal partilha um sonho e uma visão:
• O Sonho do Castelo Fortificado: Uma imagem de uma Igreja como um “alto castelo, fortificado” onde se combate o exterior e não se escutam as vozes que chegam de fora.
• A Visão do Peregrino: A Igreja como um peregrino que caminha para a Verdade, tropeça, e cujos líderes não têm “ideias muito claras”, mas precisam de caminhar por “solidariedade”. A Igreja deve estar na “tenda de Abraão” (próxima da incerteza) e não só no “templo de Salomão” (segurança e comodidade). A mensagem central desta visão é: “Não podemos, nunca, deixar de escutar os peregrinos.”

O dia culminou com a celebração da Eucaristia na Igreja Paroquial, presidida por D. Manuel Linda, Bispo da Diocese do Porto, e concelebrada por D. Sérgio Dinis, Bispo Castrense.

Na sua homilia, D. Sérgio Dinis dirigiu uma palavra de profunda estima e comunhão a D. Manuel Linda, Bispo do Porto e seu antecessor no Ordinariato Castrense, destacando a alegria e o sinal de comunhão fraterna da celebração.

O Bispo Castrense refletiu sobre a Palavra de Deus – das leituras de Romanos (Rm 6, 19-23) e do Evangelho de Lucas (Lc 12, 49-53) – destacando que a vida cristã é um “dom gratuito” e a liberdade é “serva”, cumprindo-se quando nos tornamos “pertença de Cristo”. Sublinhou que o capelão deve ser “sinal desta liberdade serva: homem liberto de si, para estar ao serviço dos outros”.

Referindo-se ao Evangelho sobre Jesus ter vindo trazer “divisão”, D. Sérgio Dinis esclareceu que esta não é discórdia, mas sim a “luz da verdade” que obriga à escolha entre o “egoísmo e o amor”, sendo o fogo que Jesus deseja acender o “fogo do Espírito”.

O Bispo Castrense evocou São João de Capistrano como exemplo de quem soube unir a palavra ao exemplo, um “homem de combate” espiritual, cuja cruz empunhada em Belgrado não visava “destruir, mas defender a dignidade do homem e a fé da Igreja”. Assim, a presença do capelão deve ser “um testemunho da paz que brota do Evangelho”.

Citando o capelão italiano Aldo del Monte, recordou que a missão do capelão é “entrar no coração de cada homem e mulher que nos são confiados”, carregando sobre os ombros as suas cruzes.

No final da homilia, dirigiu uma palavra especial ao Padre Benjamim de Sousa e Silva, sublinhando que o seu amor, “quando é de Deus, nunca se reforma: apenas muda de forma”.

A cruz que lhe foi entregue, no fim da celebração, simboliza o envio e a continuidade do serviço, pois “o Evangelho não conhece reforma nem descanso”.

D. Sérgio Dinis invocou São João de Capistrano para que ensine os capelães a viver “a liberdade de quem serve, a coragem de quem fala com fogo, a fidelidade de quem permanece”, e para que o seu ministério continue a ser “fermento de paz e de fé viva”.