A Casa do Brasil, em Santarém, foi palco de uma reflexão sobre a espiritualidade e a missão das Forças Armadas Portuguesas.

No dia 25 de setembro, o Núcleo de Santarém da Liga dos Combatentes organizou uma conferência subordinada ao tema “Patronos e Padroeiros das Forças Armadas Portuguesas”.

O evento reuniu figuras de relevo e contou com um programa que promoveu o debate entre história, fé e serviço militar na atualidade.

A conferência teve início com as boas-vindas proferidas pelo Presidente do Núcleo de Santarém da Liga dos Combatentes, SCH/CAV Carlos Pombo, e foi moderada pelo SCH/PA José Calhau.

A primeira intervenção coube ao Bispo de Santarém, D. José Traquina, seguindo-se o Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, D. Sérgio Dinis, que abordou “Os patronos e padroeiros das Forças Armadas na atualidade”.

O prelado iniciou a sua explanação pela base da fé, o Catecismo da Igreja Católica. Sublinhou que a união com a “Igreja do Céu” e a veneração dos santos que nos precederam têm um triplo propósito:

• Modelos de Vida: Os santos não apenas intercedem por nós, mas apresentam-se como modelos concretos de vida, auxiliando no crescimento da santidade.

• Força na Missão: A sua intercessão fortalece toda a Igreja na sua santidade e na sua missão no mundo.

• Paradigmas de Espiritualidade: O padroeiro, insistiu o Bispo, não é um “protetor exterior”, mas sim alguém que ensina a rezar, a viver e a servir.

D. Sérgio Dinis lançou um alerta claro sobre o “risco da mera devoção” na pastoral militar. Criticou a tendência de reduzir a presença dos santos a um mero ato festivo, a uma imagem ou a uma procissão, o que empobrece a sua riqueza espiritual.

“Muitas vezes, a pastoral reduziu a presença dos santos a uma festa, uma imagem, uma procissão… não são ‘amuletos’, mas mestres de vida.”

O Bispo reforçou que as Forças Armadas sempre procuraram referências espirituais que iluminassem a sua missão. Os patronos e padroeiros são, por isso, paradigmas de espiritualidade. O essencial, vincou, é que os militares de hoje não se limitem a invocar o seu nome, mas que procurem “entrar na sua mística, compreender a espiritualidade que viveram e traduzi-la na vida militar atual”. A verdadeira questão é: “que atualidade têm estes patronos?”

A intervenção de D. Sérgio Dinis ligou inequivocamente a tradição dos patronos aos desafios do século XXI. Argumentou que a guerra se transformou, não se decidindo apenas nos campos de batalha tradicionais, mas abrangendo ameaças invisíveis, instabilidade social, terrorismo, o ciberespaço e a defesa da dignidade humana.

É neste novo contexto que a referência aos patronos se torna crucial. Eles servem para recordar que a força maior no serviço militar não é a das armas, mas a da justiça, não é a do poder, mas a do serviço.

A atualidade dos patronos não reside em manter uma imagem nostálgica do passado, mas em “projetar a sua luz sobre o presente”. A sua mística ajuda a perceber que o sentido do soldado – seja ele crente ou não – só se encontra plenamente no serviço à comunidade, na defesa da paz e no respeito incondicional pela dignidade da pessoa humana.

Como exemplo concreto da transposição desta mística para a prática, D. Sérgio Dinis referiu a ação dos soldados portugueses nas Forças Nacionais Destacadas que transportam imagens, nomeadamente de Nossa Senhora de Fátima, e as partilham com as comunidades locais, citando especificamente a ação na República Centro-Africana, um testemunho de serviço que ultrapassa a vertente puramente operacional.

A dimensão histórica do tema foi explorada pelo Dr. Augusto Moutinho Borges com a comunicação “Os patronos e padroeiros das Forças Armadas ao longo da história portuguesa”.

A conferência culminou num debate que permitiu aos participantes aprofundar as questões levantadas. O encontro na Casa do Brasil reforçou a importância da dimensão espiritual e ética na formação e missão dos militares portugueses.