Reunidas em Fátima no seu encontro anual, a Comissão Nacional Justiça e Paz, as Comissões Diocesanas Justiça e Paz de Braga, Bragança, Coimbra, Évora, Leiria-Fátima, Portalegre e Castelo Branco e Vila Real, e a Comissão Justiça, Paz e Ecologia dos Religiosos e Religiosas vêem assinalar a mensagem do Papa, recentemente divulgada, para o III Dia Mundial dos Pobres, que se celebrará no próximo dia 17 de novembro.

Essa celebração será o motivo da realização da próxima Conferência Anual da Comissão Nacional Justiça e Paz.

Não podemos ignorar ou desvalorizar (como se de uma fatalidade se tratasse) a problemática da pobreza na sociedade portuguesa. Segundo dados do INE em finais de 2018, 21,6% da população portuguesa encontrava-se em risco de pobreza ou exclusão social. A diminuição do desemprego tem contribuído para a redução dessa percentagem, mas persiste a pobreza mesmo entre trabalhadores empregados. A Assembleia da República declarou solenemente, na sua Resolução n.º 31/2008, de 4 de agosto, aprovada por unanimidade, que a pobreza conduz à violação dos direitos humanos. O combate à pobreza dever ser, assim, um verdadeiro desígnio nacional.

E não podemos esquecer a dimensão mundial da pobreza e as regiões do mundo onde ela assume uma intensidade muito superior à do nosso país.

Da mensagem do Papa para o III Dia Mundial dos Pobres, queremos destacar o seguinte.

A mensagem retrata velhas e novas formas de pobreza:

«Todos os dias encontramos famílias obrigadas a deixar a sua terra à procura de formas de subsistência noutro lugar; órfãos que perderam os pais ou foram violentamente separados deles para uma exploração brutal; jovens em busca duma realização profissional, cujo acesso lhes é impedido por míopes políticas económicas; vítimas de tantas formas de violência, desde a prostituição à droga, e humilhadas no seu íntimo. Além disso, como esquecer os milhões de migrantes vítimas de tantos interesses ocultos, muitas vezes instrumentalizados para uso político, a quem se nega a solidariedade e a igualdade? E tantas pessoas sem abrigo marginalizadas que vagueiam pelas estradas das nossas cidades?» (n.2)

A marginalização dos pobres é denunciada com vigor:

«Em suma, reconhecemos uma multidão de pobres, muitas vezes tratados com retórica e suportados com fastídio. Como que se tornam invisíveis, e a sua voz já não tem força nem consistência na sociedade. Homens e mulheres cada vez mais estranhos entre as nossas casas e marginalizados entre os nossos bairros.» (n.2)

As razões do empenho prioritário dos cristãos ao lado dos pobres são expostas com clareza:

«Mas, perante esta multidão inumerável de indigentes, Jesus não teve medo de Se identificar com cada um deles: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40). Esquivar-se desta identificação equivale a ludibriar o Evangelho e diluir a revelação.» (n.5)

«A opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora, é uma escolha prioritária que os discípulos de Cristo são chamados a abraçar para não trair a credibilidade da Igreja e dar uma esperança concreta a tantos indefesos. É neles que a caridade cristã encontra a sua prova real, porque quem partilha os seus sofrimentos com o amor de Cristo recebe força e dá vigor ao anúncio do Evangelho». (n.7).

E os pobres não devem ser encarados como números de uma estatística:

«Os pobres são pessoas a quem devemos encontrar: são jovens e idosos sozinhos que se hão de convidar a entrar em casa para partilhar a refeição; homens, mulheres e crianças que esperam uma palavra amiga. Os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar o rosto de Jesus Cristo.» (n. 9).

Porque acreditamos que estes apelos têm plena atualidade na sociedade portuguesa e se enquadram perfeitamente na missão das Comissões Justiça e Paz, queremos salientá-los e divulgá-los por ocasião do nosso encontro anual.

Fátima, 22 de junho de 2019

CNJP – Comissão Nacional Justiça e Paz