No próximo dia 24 de setembro, na Igreja da Memória, Sé Catedral da Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança, D. Rui Valério, presidirá a uma Celebração Eucarística, com a qual se concluirá a novena a Nossa Senhora do Livramento:

 

DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO

 

1. Origens

Na perspetiva teológica, a devoção a Nossa Senhora do Livramento liga-se à força intercessora da Mãe do Céu junto do seu Filho, Jesus. Ao mesmo tempo, a devoção à Senhora do Livramento orienta cada uma das suas filhas e dos seus filhos a prosseguir ao encontro com Jesus, superando todas as adversidades das circunstâncias da vida, todas as dependências menos saudáveis, todas as tentações menos éticas, todos os problemas de saúde, enfim, todos os males.
Quanto à origem histórica da devoção a Nossa Senhora do Livramento, o episódio mais concreto que se nos foi dado apurar, remonta à detenção do fidalgo Rodrigo Homem de Azevedo, preso pelo Duque de Alba, no século XVI.
Pouco tempo depois da batalha de Alcácer-Quibir, Portugal, nas encruzilhadas da história e nos imprevistos do devir, teve de passar pelo tempo da denominada “União Ibérica”. Houve portugueses que não se conformaram, entre os quais Rodrigo Homem de Azevedo, que ficou detido.
A esposa de Rodrigo Homem de Azevedo, devotíssima de Nossa Senhora, vendo o risco que corria a vida de seu marido, encomendou o caso à santíssima Virgem. Durante nove dias orou fervorosamente.
Terminada a novena, teve um sonho, no qual lhe pareceu ver Nossa Senhora que lhe dizia: “Não te preocupes. Eu o livrarei. Mas quando puderes edifica uma igreja, para que o meu Filho seja glorificado aqui”.
Ao nono dia da novena, Rodrigo Homem de Azevedo recebeu a ordem de voltar para sua casa. Seus amigos foram cumprimentá-lo e, dele, ouviram a narrativa da grande graça que lhe concedera a Mãe de Deus.
Por ter recebido tal graça, Rodrigo Homem de Azevedo mandou esculpir uma imagem, conforme descrição da esposa em seu sonho: “Vestido branco. Os cabelos loiros soltos. O Menino Jesus no braço esquerdo e a mão direita em sinal de amparo”. E porque Nossa Senhora disse “Eu o livrarei”, deu-lhe o nome de Nossa Senhora do Livramento. Esta mesma imagem servirá de referência a Pedro Alexandrino, que pinta a tela do retábulo da Igreja da Memória.
É, pois, no período que precede a Restauração, que tem início a devoção a Nossa Senhora do Livramento.

2. A Igreja da Memória e a devoção

O pôr-do-sol do dia 3 de setembro de 1758 já tinha ocorrido há algum tempo, quando, el-rei Dom José I, foi alvo de um atentado. Atingido num ombro, sentindo que o desfecho poderia ter sido bem mais dramático, Dom José atribuiu a salvação diretamente à intervenção divina, o que motivou o voto para a construção da Igreja de Nossa Senhora do Livramento e de São José.
Começava deste modo o “Supplemento às Notícias de Lisboa”, de 16 de Setembro de 1760, o relato das festa de sagração da primeira pedra da Igreja de Nossa Senhora do Livramento e de São José, cerimónia ocorrida a 3 de setembro de 1760, exatamente 2 anos depois do atentado sofrido por Dom José, cujo salvamento o Templo comemora. «O zelo, e proteção com que a mão de Deos guardou sempre a Monarchia Portugueza, nunca se mostrou tão vesível, como na fatal noyte de 3 de Setembro de 1758, quando milagrosamente salvou a Sagrada Pessoa de Sua Magestade, e remiu a honra da Nasção, não só da orfandade a que esteve exposta a ilustre reputação, que em todo o mundo lhe tinha adquirido a fidelidade, e o amor que nos Portuguezes encontraram os seus Príncipes, e legítimos Senhores».
Poucos anos mais tarde, este lugar sagrado passou a ser mais conhecido como Igreja da Memória.
Logo que o atentado foi confirmado pelo Rei, ao mesmo tempo que o seu restabelecimento, as festas multiplicaram–se um pouco por todo o país – hinos de Te Deum, cortejos, orações congratulatórias, torneios poéticos, procissões, bailes e luminárias, foram realizados um pouco por toda a parte – em honra de Nossa Senhora do Livramento e de São José.

3. A divulgação da devoção

A partir de 1760, Nossa Senhora passou a ser muito invocada com o título “do Livramento”, sobretudo em ocasiões de perigo.
Hoje, em todo o Portugal Continental e Ilhas, há muitos templos onde Nossa Senhora do Livramento é venerada ou é mesmo orago. A título de exemplo, na Diocese de Angra do Heroísmo há duas freguesias em que ela é a padroeira. Na freguesia da Caveira, Ilha das Flores e freguesia do Livramento, Ilha de S. Miguel.
Sempre que invocamos, com fé, Nossa Senhora do Livramento, podemos ter a certeza da sua proteção, como bem nos recorda a oração de S. Bernardo, que aqui se transcreve.
Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer
que algum daqueles que têm recorrido à Vossa proteção,
implorando a Vossa assistência e reclamando o Vosso socorro,
fosse por Vós desamparado.
Animado, pois, com igual confiança a Vós, Virgem, entre todas singular,
como a Mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados,
me prostro a Vossos pés;
não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do filho de Deus humanado,
mas dignai-Vos de as ouvir propícia, e de alcançar o que Vos rogo. Amem.
Naturalmente, os portugueses espalharam a devoção a Nossa Senhora do Livramento pelos territórios a que estavam associados, nomeadamente o Brasil, a Índia, e África, onde é possível encontrar igrejas, santuários, ermidas e localidades com este nome.
A festa de Nossa Senhora do Livramento, nas povoações que a têm como referência, tem ocorrido entre os meses de maio e de setembro, sendo incontornável a associação à Natividade da Virgem Santa Maria, 8 de setembro de cada ano.
Na Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança, celebraremos Nossa Senhora do Livramento no dia 24 de setembro, ou no domingo mais próximo.

Oração

Mãe amorosa,
permanecei em mim
como num templo adornado e acolhedor.
Nossa Senhora do Livramento,
livrai-me de todo mal.
Reinai em minha alma,
mostrando-me nos vossos braços a Jesus.
Amen