Padres Diamantino Teixeira e Licínio Silva realizaram missões em solo afegão e temem que «se abandone o povo à sua própria sorte», valorizando a atual «dimensão pacífica»
Lisboa, 17 ago 2021 (Ecclesia) – Os capelães militares Diamantino Teixeira e Licínio Silva, que estiveram em missão no Afeganistão, estão a acompanhar a atual situação do país com “tristeza” e preocupação, após os talibãs terem assumido o controlo.
“As minhas orações são para que a comunidade internacional reflita um bocadinho e vá em auxílio daquele povo porque eles não têm condições para inverter este sistema talibã que se está a implementar, que é injusto, é cruel, é terrorista, se não 20 anos de investimento na defesa daquele povo foi tudo por água abaixo”, disse hoje o padre Diamantino Teixeira em declarações à Agência ECCLESIA.
Em menos de duas semanas, após o início da retirada das tropas da coligação internacional encabeçada pelos Estados Unidos da América, os Talibãs tomaram o controlo do Afeganistão e chegaram à capital Cabul. A guerrilha extremista prepara-se para formar um novo governo, depois de terem governado o país entre 1996 e 2001.
O padre Diamantino Teixeira revela que acompanha esta situação com “muita tristeza” e lamenta que depois de “tantos anos, tantos esforços internacionais” para levar “paz, liberdade, estabilidade” aos afegãos, de um momento para o outro, “se abandone o povo à sua própria sorte”.
“Era inevitável que isto acontecesse quando saíssem as forças internacionais; Quem esteve lá sabe perfeitamente que a investida talibã para conquistar o poder era constante, era a grande ameaça, os grandes inimigos que estavam sempre a tentar entrar”, acrescenta o capelão militar que esteve no Afeganistão entre fevereiro e setembro de 2007.
O padre Licínio da Silva, capelão na Base Naval de Lisboa (Alfeite) e na Base dos Fuzileiros (Vale de Zebro), que viveu “seis meses muito fortes” no Afeganistão, entre 19 de outubro de 2011 e 20 de abril de 2012, destaca “uma dimensão muito pacífica” na situação atual, sem “violência” das forças governamentais e dos talibãs, das imagens que conseguiu ver.
“Vi que o pessoal entrou, as tropas, a polícia ninguém reagiu, o próprio presidente saiu para evitar sangue, nesse aspeto penso que é positivo. Não houve violência, espero sinceramente que se mantenha e será excelente. Às vezes queremos impor as nossas regras, as nossas formas de ver e às vezes não é o mais correto”, disse hoje em declarações à Agência ECCLESIA.
Segundo o capelão militar, as pessoas estão com uma “determinada perspetiva de vida e não quiseram confronto”, por isso, espero que seja um “sinal positivo para aquele povo agarrar com sentido a vida deles”.
Neste contexto, o padre Licínio da Silva manifesta preocupação com os intérpretes, os tradutores, que estão a “tentar sair para se protegerem”, porque têm medo de retaliações, porque são pessoas que tiveram uma “ligação muito grande” com os Estados Unidos da América, com a NATO, com os países da Europa, concretamente Portugal.
O capitão-tenente observa que os afegãos, ao longo dos anos, “nunca se deixaram dominar, nem governar por ninguém” mas não estava à espera desta transição de poder, principalmente porque é um “exército com 300 mil homens, uma postura forte e bom armamento”.
O padre Diamantino Teixeira recorda também um país sem margem para liberdade religiosa e lembra que só encontrou “presença cristã dentro da embaixada italiana” e numas irmãs de Charles de Foucauld, mas “totalmente disfarçadas”.
No domingo, o Papa Francisco uniu-se à “preocupação unânime pela situação no Afeganistão” e pediu para rezar “ao Deus da paz”, para fossem encontradas as “soluções à mesa do diálogo”, desde a janela do apartamento pontifício, após a recitação da oração do ângelus.
HM/CB/PR (Ecclesia)