Celebramos hoje a memória litúrgica de São Luís Maria de Montfort, um santo que nasceu em França, em 1673, e morreu a 28 de abril de 1716.
Fundador dos Missionários Monfortinos, das Irmãs da Sabedoria e dos Irmãos de São Gabriel, toda a sua vida se orientou numa permanente ação missionária consagrada a «renovar o espírito do cristianismo nos cristãos». Era um místico ardente, que olhava para a realidade do ponto de vista de Deus e, como tal, vislumbrava sempre a eternidade como o verdadeiro sentido da realidade temporal.
Conhecido fundamentalmente por ser um apóstolo de Nossa Senhora e da Cruz como Sabedoria de Vida, a sua grande referência é a Consagração a Jesus por Maria, que ele viveu e ensinou, tendo deixado uma vasta obra sobre o assunto. A mais conhecida de todas é o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, que foi livro de cabeceira de São João Paulo II desde os seus 16 anos, quando trabalhava nas minas de Cracóvia, até à sua morte, além de ter inspirado grandes personalidades como São Maximiliano Kolbe, Santa Madre Teresa de Calcutá, Frank Duff e muitas outras… A propósito da consagração mariana, ainda recentemente o Papa Francisco a repropôs como caminho de santificação e de renovação para a Igreja.
Uma faceta do seu ministério apostólico, nem sempre tida na devida conta, foi a ação que desenvolveu com os militares. Já é inspirador o facto de ter pensado na Congregação dos Missionários como uma Companhia — o nome com que oficialmente a batizou é mesmo «Companhia de Maria» — feita de sacerdotes que, como soldados, combateriam o mal e a corrupção com as armas do amor, do serviço e da oração para fazerem reinar no mundo a santidade e a justiça. Também as Irmãs da Sabedoria, cujo carisma se desenvolve, entre outras dimensões, igualmente pela assistência médica, tinham a incumbência de prestar sempre auxílio aos soldados, aos feridos e aos doentes.
Mas foi sobretudo na sua ação missionária que mais ficou vincada a dedicação a esta franja da sociedade. Na verdade, realizou missões orientadas expressamente para os soldados, as quais, segundo os biógrafos, produziam sempre abundantes frutos de conversão e humanismo. Muitas vezes se deslocava a Brest, à época «capital» da Marinha Francesa, para pregar aos marinheiros e os confessar.
Presto hoje a minha homenagem a São Luís de Montfort, evocando um episódio que tive a graça de viver na Escola Naval, em 2009, aquando da visita do Comandante e Diretor da École Navale francesa. Na qualidade de Capelão, fui chamado a deslocar-me à «sala Macau» para proceder à bênção de uma imagem de Nossa Senhora do Mar, que o nosso Comandante queria ter a amabilidade de oferecer ao seu homólogo francês. Este, segurando a imagem nas mãos, proferiu algumas palavras que foram bem mais do que circunstanciais ou de simples agradecimento. Com alguma emoção, referiu que em Brest e concretamente na École Navale se cultiva uma sentida devoção para com Nossa Senhora. E evocou São Luís de Montfort, um santo que tinha lidado muito com os marinheiros e que era muito querido de todos eles. Depois da breve cerimónia, e num aparte, quando lhe disse que era monfortino, ele informou-me de que, ainda hoje, está vivo na memória algo que São Luís lhes tinha ensinado: «Deus reuniu todas as águas e chamou-lhes mar, depois reuniu todas as graças e chamou-lhes Maria».