A todos dou as boas vindas e agradeço a participação nesta acção promovida pelo Ordinariato Castrense de Portugal. Sentimo-nos honrados com as vossas presenças. Há duas que devo referir, porque desejavam participar, mas foi-lhes impossível: o senhor Ministro da Defesa, em trabalho no estrangeiro, e o senhor Núncio Apostólico, retido também no estrangeiro, devido à greve da TAP. A vocês e a eles, o meu «bem-hajam».

A propósito do centenário da I Grande Guerra, estão a ser organizadas muitas acções e de imenso valor, nos mais diversos domínios. Ainda bem. Para quem as prepara, o meu profundo reconhecimento. Nós, bispo e padres que servimos as Forças Armadas e Forças de Segurança, também quisemos organizar esta, não por competição, mas para podermos colocar algo de próprio, qualquer coisa que nos é específico: em sintonia com o Papa, rezar pelos mortos, recordar os heróis que lhes prestaram assistência religiosa e garantir às Forças Armadas e às Forças de Segurança que a Igreja portuguesa tudo fará para as acompanhar na via da espiritualidade, da fé e da religião.

Sim, sufragamos os caídos na I Grande Guerra e em todas as outras. Agradecemos-lhes os seus sacrifícios nas trincheiras e não nos esquecemos do «sangue suor e lágrimas» que verteram. Por isso mesmo, pelo respeito que nos merecem, não queremos que as comemorações se reduzam a números, a recriações no mapa, a frias sinaléticas, como se de um jogo de xadrez se tratasse. É que é muito diferente assistir a um filme da época, visualizado no nosso moderno televisor, sentados num confortável sofá, ou participar na acção dentro da trincheira. Rezamos pelos soldados caídos e pelas suas famílias, pois uns e outros conheceram a saudade, a dor e o sofrimento em grau máximo. E, simultaneamente, afirmamos a existência da vida eterna, referente último da nossa fé, algo a que a instituição militar é muito sensível, como o comprovam as habituais homenagens aos mortos.

Depois, quisemos fazer memória viva dos heróicos sacerdotes que, no meio de condições extremamente penosas, souberam fazer-se próximos dos militares, compartilhar a sua situação e prestar-lhes assistência espiritual e religiosa. Foi assim na guerra da Flandres, com o Corpo Expedicionário Português, como o foi nas guerras coloniais: a Igreja, que só tem razão de existir em função das pessoas, soube estar com os mais sofredores dos sofredores. A figura gigante do P. José do Patrocínio Dias, mais tarde, Bispo de Beja, e para sempre conhecido como «bispo-soldado», como que sintetiza o zelo pastoral de inúmeros sacerdotes que se dedicaram a este ministério e a preocupação da Igreja assistir os militares. E lançam um repto, a mim bispo e aos sacerdotes que comigo trabalham: estaremos à altura destes «servos bons e fiéis»?

Finalmente, com esta celebração, queremos garantir aos militares e aos agentes de segurança de hoje que a Igreja que está em Portugal não os abandonará: tudo fará para continuar a participar na sua condição de vida e persistirá nesta assistência humana, espiritual e religiosa. Como tive oportunidade de afirmar no Domingo passado, no Dia do Exército, a consideração da Igreja por vós é tal que, aqui em Portugal, como nos países membros da NATO e sempre que é possível em qualquer outra parte do mundo, criou este Ordinariato Castrense, uma verdadeira Diocese pessoal, em tudo igual às outras, menos no território, e não obstante a carência de Padres, os meus colegas bispos têm mostrado uma enorme abertura para esta causa, dando capelães.

Reagradeço a vossa presença. Que esta acção nos ajude a atingir aquele cume de civilização cujo expoente é o homem, todo o homem. Que este seja respeitado como irmão e Deus seja tido como Pai comum.

 

Manuel Linda