Na impossibilidade de estar presente, devido ao lançamento do DoCat, D. Manuel Linda enviou a seguinte mensagem.
Mensagem à família e aos amigos do
Guarda Principal Carlos Filipe Caetano
e à Guarda Nacional Republicana
É missão grave do bispo estar com os seus fiéis, especialmente nos momentos difíceis e dolorosos. Como um Comandante, o bispo tem de ser o último a abandonar o navio, mesmo correndo perigo de vida. Isto é, ser bispo não é desempenhar um qualquer cargo importante, mas dar o exemplo no aproximar-se das pessoas, partilhar os seus sentimentos e estender uma mão amiga para as retirar do poço negro do sofrimento e as abrir à luz da esperança e do conforto espiritual possível.
Por esta razão, é com profunda tristeza que não posso estar presente junto de vós, neste momento trágico e de luto. É que, um compromisso pastoral e religioso de âmbito nacional, há muito assumido, impede-me a presença física. Não obstante, garanto-vos uma fortíssima presença espiritual: também eu sofro convosco, me emociono convosco e experimento a negrura da tristeza. Mas também faço o que vocês fazem agora: rezo. Sim, neste momento, a única coisa que podemos fazer é pedir a misericórdia do nosso Deus. Misericórdia, antes de mais, para a alma do Guarda Principal Carlos Caetano para que Deus lhe valorize o sacrifício da vida e do sangue, derramado na defesa do bem e da legalidade, e lhe perdoe alguma falta cometida ao longo da sua curta vida; e misericórdia para os seus familiares, camaradas e amigos que, porventura, neste momento, sofrem tanto que podem já não encontrar razões de viver. Deus vos ajude. Que ele, o nosso Deus, coloque a sua mão paterna no ombro do Carlos e no vosso para vos confortar, amparar e animar, tal como um Pai faz a um filho quando este sofre a mais dura provação.
Queria aproveitar esta circunstância trágica para uma palavrinha simples, dirigida a todos, mas especialmente a quem tem o poder da decisão ou da influência.
A nossa cultura e maneira de viver, aqui na Europa, está a tornar-se problemática. Por um lado, à base de um conceito errado de liberdade, não se insiste na modelação do nosso temperamento, na formação moral e na educação para os valores. E o mal mais terrível encontra campo aberto para se impor, a ponto de a vida humana se tornar apenas uma questão de preço e, por sinal, para os malvados, um preço muito baixo: mata-se por «dá cá esta palha», como diz o povo. Por outro lado, as Forças de Segurança, concretamente a Guarda, são ignoradas pela maioria, menosprezadas por muitos e até adiadas por alguns. Delas se exige que a legalidade impere mas, quando as coisas correm com tranquilidade, alguns acham que estão a mais.
Esta mentalidade é perigosíssima a curto prazo. Evidentemente, nenhum de nós procura o martírio. Por isso, qualquer dia sujeitamo-nos a que poucos ou nenhum queiram entrar nesta Força de Segurança porque a dureza de vida é enorme, a exposição social incomoda e a compensação, concretamente o salário, é muito pequena. Então, que queremos? Que o mal campeie e a ilegalidade alastre por falta de quem lhe ponha cobro? Eis, pois, uma questão não apenas social, mas mesmo moral: dê-se à Guarda e às outras Forças de Segurança os meios humanos e técnicos, os equipamentos e a formação sem os quais não podem afrontar o mal que cada vez parece ressurgir com mais intensidade. E faça-se tudo para se valorizar, social e economicamente, esta altruísta e nobre função de preservar a boa harmonia social, a paz, a liberdade e a legalidade.
Evidentemente, não sou técnico desse âmbito. Apenas quis alertar para algo que me preocupa, pois a sociedade aberta tem muito inimigos. E precisa de quem a defenda. O que me compete é animar a fé dos crentes. Por isso, digo à família, aos camaradas e aos amigos: como sabeis pela vossa formação religiosa, o mistério pascal de Jesus também passou por uma Sexta feira muito dura, também se esvaiu em sangue, também houve dor atroz. Na história de Jesus, também entrou uma Mãe desfeita em lágrimas e uns quantos amigos com o coração partido pela dor. Também entrou uma sepultura e um túmulo. Mas também aconteceu um Domingo de Páscoa, também se experimentou a alegria mais profunda do reencontro, também se saboreou a plenitude da vida. Numa palavra: houve ressurreição.
Caros amigos, hoje, para vós e para mim, é Sexta-feira Santa. Muito negra e muito dura. Mas chegaremos à glória da ressurreição. O dia de hoje é passagem e não realidade final.
Garanto-vos o apoio da minha oração: ela obtenha o eterno descaso para o Guarda Principal Carlos Caetano e o conforto para os familiares, camaradas e amigos. Deus vos ajude.
O vosso irmão,
Manuel Linda
Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança