E eu direi: “não admito, minha esperança é imortal”
E eu repito: “ouviram? IMORTAL”
Sei que não dá pra mudar o começo
Mas, se a gente quiser
dá pra mudar o final!
Elisa Lucinda

Nestes últimos tempos, nas circunstâncias mais diversas, têm vindo a ser notícia
diferentes factos relativos a pessoas e a instituições que, direta ou indiretamente, evocam
a questão da honestidade.
Ora, no geral, todos sabemos o que é “ser honesto”.
Temos experiência pessoal. Sabemos interiormente reconhecer o bem que
podemos fazer e o mal que devemos evitar. Às vezes, por não termos realizado o
pequeno bem concretamente possível para nós, naquela circunstância precisa que era a
nossa, ao darmo-nos conta, caímos em nós e desejamos emendar, corrigir o que fizemos
ou, pelo menos, reparar os danos.
Exatamente porque a instância da honestidade diz respeito à capacidade de
responder pessoalmente pelo bem e pelo mal, enquanto eles dependem de nós,
conhecemos as pessoas pelo que são capazes de compreender e de querer – livres no
decidir e conscientes no agir – com as consequências que as suas atitudes comportam.
De facto, não é nada de longínquo ou de inacessível. Está mesmo à nossa mão.
E, no entanto, é estranho como culturalmente parece ter-se instalado um
sentimento generalizado de complacência acerca deste valor. Pode até chegar-se a
considerar “esperto” o mentiroso que não é apanhado.
Não nos podemos resignar! Como se a desonestidade fosse uma fatalidade. Uma
doença contagiosa para a qual não conhecêssemos ainda a terapêutica adequada. Tanto
mais que nestes últimos tempos se tem vindo a confirmar o antigo adágio (recolhido pelos
evangelhos sinópticos e colocado na boca de Jesus): não há nada oculto que não venha
a ser conhecido (cf. Mc 4,22; Mt 10,26; Lc 8,17; 12,2).
A Comissão Nacional Justiça e Paz vem alertar, com esta breve nota, para o facto
de que quem sofre com a desonestidade instalada, aos mais diversos níveis, são sempre
os pobres.
Pedimos emprestado os versos de Elisa Lucinda (mais conhecidos na declamação
de Ana Carolina, no concerto ao vivo com Seu Jorge) para, com ela, falar «do nosso
dinheiro / Que reservamos duramente / Para educar os meninos mais pobres que nós /
Para cuidar gratuitamente da saúde deles, dos seus pais / Esse dinheiro viaja na
bagagem da impunidade / E eu não posso mais […] Pois bem, se mexeram comigo / Com
a velha e fiel fé do meu povo sofrido […] Mais honesta ainda eu vou ficar […] E eu vou
dizer: “não importa, será esse o meu carnaval” / Vou confiar mais e outra vez / Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos / Vamos pagar limpo a quem a gente deve / E receber
limpo do nosso freguês / Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético […]»
Nestes tempos que nos são dados viver não nos podemos resignar!
Sabemos que não dará para mudar o passado. É verdade. Mas sabemos também
que, se quisermos, a honestidade não será mais só um conceito abstrato. Será a
qualidade primeira das nossas relações fraternas. E não é difícil! É até muito simples,
fácil, rudimentar, se quisermos utilizá-la como material imprescindível na construção de
um mundo mais justo e mais fraterno.
Lisboa, 14 de maio de 2018
A Comissão Nacional Justiça e Paz